quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Fim de ano, últimas avaliações e o mundo que virá...


Salve salve pessoas.. pois é, acabou o ano. Ainda tem recuperação, conselho de classe, reunião com os pais, formaturas, entre outros prolegômeros, mas pra mim, na prática, o ano acabou. Fechei as avaliações, entreguei as notas na secretaria, parabenizei os que são de parabéns, recuperei os que eram de recuperação, alertei os que meu egoísmo me impede de evitar e agora já tô pensando em 2014.
As turmas para o próximo ano já estão sendo forjadas, mas penso em mudar um pouco da geografia das turmas pela escola. As turmas de alunos com histórico de repetência, indisciplina e conflitos familiares precisam ser trazidos para o centro da atenção e não escanteados no fundo. Além disso, hoje recebi a boa notícia que teremos duas turmas de 9o ano pela manhã. A notícia ruim é que uma colega cujo trabalho eu admiro muito vai mudar de escola, mas eu mesmo tava com essas ideias e sei que ela vai continuar potencializando pessoas onde estiver.
Voltando à questão das turmas, considero que foi um sucesso a montagem das turmas do presente ano. Embora muita gente torça o nariz ao escutar isso, eu sou um defensor de que o modelo em si não é ruim.. nem bom.. é um modelo.. com qualidades e limitações como todo modelo. O projeto não é segregar, mas sim agrupar os alunos de acordo com interesses e necessidades. Ele está fadado ao fracasso, quando você espera de todas as turmas o mesmo desempenho para a mesma didática e conteúdo (assim como no sistema de turmas montadas "aleatoriamente"). O ideal seria trabalhar cada educando em sua especificidade, mas como isso é impossível no sistema massificado de ensino, que ao menos dialoguemos com questões mais próximas de grupos, identidades e dificulades coletivas. A construção das turmas é feita em diálogo entre a equipe, analisando muito além de notas, mas sim as vivências e práticas dos estudantes no ambiente escolar e além dele. 
No presente ano, assumi o 8o ano H com o objetivo de mostrar que minha ideia era viável. A aprovação da turma em relação ao ano anterior subiu mais de 400% (de 3 para 13) pelo simples investimento em outras formas de ensinar. Ninguém foi salvo como nesses filmes holliwoodianos, onde o sacrifício edificante de alguma professora representa a redenção dos rejeitados. Porém, posso afirmar que houveram desenvolvimentos pessoais muito significativos. Gente descompromissada correndo atrás, dificuldades sendo enfrentadas e um caso específico, do estudante 21, que certamente foi a melhor surpresa do ano. Frustrações houve, é claro, porque quando a pessoa não quer, nada acontece. Todos tem seus potenciais e a escola não pode continuar nessa lógica do conteudismo ou está fora. "É preciso promover novas formas de subjetividade" como diz o Foucault.
Ainda preciso confirmar isso no conselho de classe, mas acredito que as repetências vão sofrer uma boa redução. Não por leniência dos docentes, mas por novas estratégias e posturas. Nesse ano, alguns projetos interdisciplinares e transdisciplinares, como a Feira de Ciências, a maquete do Sistema Solar ou o Dia da Consciência Negra, mostraram que não é uma questão de avaliar mais e sim avaliar melhor. A reprovação do 8o ano deve cair de 50% no ano passado para 30% esse ano. Eu sei que ainda é alta, mas é uma melhora significativa. No 6o ano devemos cair de 30% para 25%, no 7o ano de 25% para 20% e no 9o ano de 25% para 10%., patamar este dentro do que pode ser vislumbrado como ideal. Talvez a questão direta agora seja a evasão que está acima de 10% em média.
O 6o ano C, turma que sou conselheiro acabou encerrando como a minha melhor turma pela baixa reprovação, mudança de postura e alguns desenvolvimentos pessoais específicos. O 6o ano B, por outro lado, foi a turma com maiores dificuldades. Pontualmente, em todas as salas houveram alegrias, superações e desapontamentos. O 8o ano A proporcionou o privilégio de bons diálogos e ideias trocadas. Acho que 2013 foi um ano difícil e por isso mesmo, um ano de aprendizagem. Que venha 2014...

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Vidas Secas de Nélson Pereira dos Santos


Baseado na obra de mesmo nome de Graciliano Ramos, o filme Vidas Secas de 1963 é magnificamente impactante e um elemento importante para o debate sobre terra e propriedade no Brasil, seguindo o eixo-temático do 8o ano. Salve salve pessoas... mais uma vez venho trazendo um dos filmes utilizados em sala de aula, pois entendo que essa obra tem inúmeros pontos a contribuir com a discussão.
Em primeiro lugar e mais diretamente, o tom minimalista do filme em preto e branco expõe de maneira impactante a realidade da vida no sertão do Nordeste. A vida seca transborda da tela. A aridez e inclemência do sol parece nos acompanhar a todos, enquanto acompanhamos Fabiano e sua família pisando sobre o chão seco. 
Confesso que temi que a linguagem do filme não conseguisse manter a atenção do público adolescente de 13, 14 anos, mas fui surpreendido.  Apesar do ritmo ser diferente do que eles estão acostumados, outros elementtos ajudaram a preder a atenção, como o filme ser dividido em três aulas, por exemplo. As imagens do filme dialogaram profundamente com a leitura de Os Sertões onde há um descrição exaustiva da flora e da fauna local por Euclides da Cunha, fator que também ajudou a familiarizá-los com a jornada. O caráter cíclico da seca (inclusive com a recente seca, uma das maiores das últimas décadas) também contribuíram na atualidade do assunto no imaginário dos estudantes.
Em segundo lugar, assim como o maravilhoso livro de Graciliano Ramos, a história se inicia e termina com aquela família rumando sem destino flagelada pela seca. O ciclo que marca a vida humana naquelas cercanias é apresentado em suas minúcias, sem falsas ilusões de esperança, na crueza da sobrevivência. A esperança que se mantém viva com a chuva, que engorda um pouco como os meninos de Sinhá Vitória, se esvai com o sumiço da água. A mesma marcha é retomada, enquanto os alentos, como a cachorra Baleia ficam pelo caminho.
Além disso, eu diria que está tudo lá: o patrão explorador; o Estado opressor; o banditismo como uma questão de classe, uma opção entre tanta miséria; o alento seja na cachaça ou nas folias populares; a desumanização do homem; o inferno dos condenados que surge nesse e não em outro mundo; a religião; as rotinas masculinas e femininas; a infância sem nome, cuja identidade é construída seguindo os passos miseráveis dos adultos.
Ainda que se trate de uma obra de ficção, há tanta história nessa narrativa, que ela dialoga profundamente com a realidade seja de 1938, de 1963 ou de 2013. Para pensar e tentar entender a história de seus avós, deles mesmo, do Recantos das Emas, do povo, dos retirantes... para tudo isso, esse filme se mostra um excelente ponto de partida para os estudantes.
Além deles se emocionarem com a morte da cachorra Baleia, rirem com os meninos tocando as cabras como se fossem bois, montando-as como vaqueiros mirins, se assustarem com a surra em Fabiano, se escandalizarem com a palavra inferno tantas vezes repetida ou não entenderem a necessidade de Sinha Vitória em ter sua cama de couro, todos eles percebem ali uma forma de existência humana. Uma forma de existência humana que dialoga com o cotidiano deles em aspectos macro e que os faz enxergar além nas particularidades da micro-história de uma família que poderia ser qualquer família. Eles percebem que eles conhecem aquelas pessoas e que precisam pensar melhor o próprio mundo. 

sábado, 2 de novembro de 2013

Rpg e Os Sertões de Euclides da Cunha

Salve pessoas, desculpem o sumiço, mas a correria tá grande com a seleção do doutorado, o fim de ano, festejos e planejamentos. O 4o bimestre já vai bem adiantado e muitas das propostas vão chegando ao fim do processo. Nas turmas de 6o ano, estamos estudando o mito da Guerra de Tróia, adaptado a partir de texto de Jean Pierre Vernant no livro O Universo, Os Deuses, OS Homens. Esse mito é explorado de forma mais densa que os anteriores, havendo um especial interesse pelo herói como modelo ideal do homem grego. Outros aspectos são a relação mito e história, a relação ocidente e oriente e o ideal da Grécia como "berço da civilização ocidental". 
Para deixar tudo mais interessante, os estudantes são convidados a teatralizar o mito. Cada um deles recebe um personagem: Aquiles, Ulisses, Heitor, Helena, Zeus, etc. Durante a narração do mito são responsáveis por interpretar o personagem, escolher o que ele falará, combater como ele, discutir com os demais. Na prática, estamos jogando rpg (role playing game), que é um jogo de interpretar papéis. Em cada uma das turmas há uma vivência única do mito e de seus personagens. Os interesses do estudante se confundem comos interesses do personagem. A molecada pira. As crianças tem oportunidade de gastar energia, usarem a agitação que as povoa, ao mesmo tempo que lidam com temas e conteúdos históricos.
Num segundo momento, ao final do mito, eles são convidados a escrever o que aconteceu com o seu personagem depois da Guerra de Tróia, como acontece com a Odisséia de Homero sobre Ulisses. Esse é o trabalho bimestral, que vale 5 pontos e tem que ter no mínimo 90 linhas (ele é famoso por isso). Além de trabalhar a criatividade e a produção do texto, isso se articula com o próximo e último mito a ser trabalhado: A Eneida de Virgílio para explorar o mundo romano. Da mesma forma que a Odisséia falava sobre o mundo grego, o trabalho dos estudantes fala sobre o mundo deles.
Nas turmas de 8o ano, nós estamos lendo o livro Os Sertões do Euclides da Cunha paralelamente à discussão da formação da nacionalidade brasileira. Ainda tendo por eixo-temático a questão da terra e propriedade, a análise de conteúdos de recorte político tradicional como o processo de independência, o primeiro reinado, a regência e o segundo reinado, dão lugar a uma análise das revoltas e lutas em torna da formação da nação, não só do Estado. Essa análise culmina com o conflito de Canudos. Então, nada melhor que ler a obra-prima de Euclides da Cunha.
No entanto, o livro é extremamente denso e rebuscado, me obrigando a acompanhar mais diretamente a leitura dos educando. Senti necessidade de passar minha leitura prévia com eles, além de realizar atividades de leitura. Mostrei a eles a importância de sublinhar as partes mais importantes, lembrei de procurarem significados das palavras que não entendiam, a fazer anotações sinteses para facilitar leituras posteriores e incentivei que buscassem resumos e resenhas para complementar a leitura. Por enquanto está andando bem.
No fim, o que mais se precisa, o que os estudantes (todos nós) precisam é ler e escrever.. e alguém para corrigir e orientar. E se divertir.. é claro.


domingo, 6 de outubro de 2013

Avaliação, novos resultados, reavaliações e o fim do 3o bimestre

Salve pessoas.. mais um fim de bimestre para pararmos um pouco e tentar dimensionar os planejamentos, as estratégias, os métodos, os resultados e as vivências. As chuvas voltaram, a primavera começou e os tempos vão mudando no micro e se perpetuando no macro. Sempre mais do mesmo de uma maneira diferente.
Ao longo do 3o bimestre, já não é mais o caso de simplesmente lançar possibilidades, mas sim de analisar o crescimento das sementes plantadas ao longo do primeiro semestre. Nas turmas de 6o ano é um bimestre com conteúdo tranquilo e prazeroso. Após concluir o 2o bimestre com as Revoluções Agrícola e Urbana, os estudantes são apresentados a 4 grandes civilizações fluviais: Mesopotâmia (rios Tigres e Eufrates), Egito (rio Nilo), Índia (rio Indo) e China (rio Amarelo). Para estudar cada uma delas é apresentado um mito do respectivo povo. Ao longo da análise dessas civilizações, de suas divisões sociais, de suas cidades e culturas, a relação entre mito e história é explorada. Posso dizer depois de 4 anos de práticas que a molecada pira. Inclusive, o trabalho do bimestre é escrever um mito deles, sobre um povo inventado por eles, com seu próprio rio e divisão social. Dá trabalho pra corrigir, mas é produtivo e prazeroso. Li bons mitos esse ano, sendo que os mitos do Bob Esponja continuam prevalecendo. Vale destacar que 92% dos alunos fizeram o trabalho do bimestre e que o ponto extra da feira de ciências mais uma vez atuou como uma recuperação contínua. Lembrando que avaliação não é uma questão de nota, mas de desenvolvimento humano em multiplas dimensões.

No 6o ano A, houve um crescimento da turma, embora as brincadeiras imaturas ainda sejam recorrentes. Os alunos com necessidades especiais 12 e 19 ainda tem alguns problemas de socialização, mas a turma tem sido paciente. Eu tenho tentado dar mais atenção a todos eles, até porque gosto da criançada. A estudante 6 foi a grande destaque, ela que é repetente do ano passado, tirou a maior nota da prova e tem mostrado grande evolução na escrita, leitura e socialização. Além, dela a estudante 22, que já apresentava o mesmo perfil desde o início do ano, também é destaque. Elas são lideranças positivas no grupo, embora muito tagarelas. Outras três meninas são destaques: 16, 22 e 25.
Um grupo significativo teve melhora de desempenho: 2, 3, 10, 13, 20, 21. Além deles, outros mantiveram desenvolvimentos satisfatórios e irão passar para o 7o ano no meu entender. Mesmo os casos mais complicados apresentaram alguma melhora e maior comprometimento com o processo. Ainda assim, os estudantes 5 e 11 não devem passar de ano. O trabalho com o aluno 11 para habilitá-lo ao longo do ano que vem já está rendendo frutos. Ambos apresentaram melhora, mas precisam de mais tempo. Os estudantes 4, 18 e 27 requerem muitos cuidados, mas estão iniciando uma boa caminhada, mesmo que ainda vacilante.

No 6o ano B, a situação continua delicada, o desempenho ainda está abaixo das demais turmas, mas algumas escolhas se mostraram boas.  A chegada do aluno 32, a escolha da estudante 16 como nova representante e a transferência da estudante 27 tranquilizaram o ambiente, mesmo que não de imediato. A turma tem um bom ambiente com o estudante portador de necessidades especiais 22 e ele mostrou uma evolução significativa, tendo uma ótima memória.
Os destaques foram 16, 29, 31, 32, 33, sendo os três últimos advindos de fora da turma nesse bimestre. No entanto, o número de estudantes sem o desenvolvimento ou comprometimento necessários é alto: 5, 7, 10, 11, 12, 23 e 28 apresentam deficiências graves na leitura e escrita. O caso mais grave é do aluno 11, que já é repetente, mostrou-se resistente à todas as estratégias de mudança e acabou recorrendo nos mesmos problemas do ano passado. Seu caso pede acompanhamento psicopedagógico reforçado. Os demais precisam de um acompanhamento atento e reforço de formação mais básica. Outros casos que requerem atenção, mas ainda podem ser solucionados com o último bimestre são: 2, 9, 20, 24 e 26, sendo que 9 e 24 apresentaram melhora, mas 2 e 20 parecem estacionados. Vale destacar a recuperação dos repetentes 14, 16, 25 e 29. 

O 6o ano C, turma em que sou conselheiro, continua agitado, mas o desempenho e comprometimento tem sido significativos. Nas minhas aulas, a dedicação e interesse tem sido elevados, embora alguns problemas pontuais deles com o professor de matemática permaneçam. O desenvolvimento de toda a equipe da turma foi percebido e mesmo os casos mais graves transformaram-se de alguma forma. As maiores melhoras foram dos estudantes 7, 9, 11, 21 e 27, que correram atrás e participaram mais. Não há nenhum educando que já precise repetir o ano, mas 1, 5, 9, 10, 16 e 17 ainda exigem atenção cuidadosa. Os problemas disciplinares ainda mantem 10 e 17 como problemas maiores, mas o histórico de repetência de ambos pede medidas mais consistentes. A transferência do estudante 28 da escola após o episódio da briga ajudou a tranquilizar o ambiente, que é bastante intranquilo. As alunas 3 e 19 necessitam de atenção pelos problemas de socialização. 
Merecem destaque os estudantes 4, 6, 12, 24 e 26, que estão certamente entre os melhores de todo o 6o ano. Creio que seja possível uma aprovação próxima de 100% ao fim do ano nessa turma.

O 6o ano D é a turma que mostrou menos transformação. O grande número de alunos gera agitação e dificuldades maiores. Além da presença de alguns casos de socialização difíceis, como os alunos 10 e 27. Ainda assim, há um bom grupo de destaques como os estudantes 2, 4, 11, 23, 28, 30 e 37. Os casos mais problemáticos, com a transferência do estudante 27, certamente, são os alunos 6 e 18, que já estão reprovados. A aluna 18 já está reprovada por faltas pela terceira vez, sem apresentar vontade de mudar, assim como seus familiares. Existem outros casos, que se destacam pela falta de preparação na leitura e escrita como 3, 20 e 29. Já os estudantes 10, 31 e 35 não tem qualquer compromisso real com o processo de aprendizagem. Ainda assim, há um grupo com histórico de repetência que demonstrou atitude necessária para seguir para as próximas etapas do processo de ensino aprendizagem.
Nessa turma houve maiores problemas com os trabalhos, pois 5% não foram entregues e outros 5% eram copiados da internet, o que gerou a recuperação: fazer outro trabalho ou fazê-lo pela primeira vez. 

O 6o ano E é a turma de melhor desempenho entre as de 6o ano, se levamos em conta o número de alunos e alguns casos especialmente difíceis. Embora os tumultos e confusões causados por esses alunos de perfil mais problemático permaneçam, já não perturbam tanto o ambiente. Há um grupo de estudantes maduros e preparados para as demandas vindouras do processo de aprendizagem. Merecem destaque: 3, 7, 22, 23, 24 e 25. Os educandos já reprovados são 26, 28 e 31, sendo que os dois últimos já são repetentes e são casos particularmente difíceis. Além destes, precisam de atenção particular, pois apresentam desinteresse e carências 2, 20, 29 e 43. O aluno 8, hiperativo também precisa de cuidados.

O 6o ano F é a turma mais tumultuada, com um grupo majoritário de estudantes com histórico de repetência, de evasão e problemas familiares. Ao longo desse bimestre, alguns casos muito problemáticos, os familiares optaram pela retirada dos alunos: 17 e 29. Outros casos de carências grave de leitura e escrita, somados a indisciplina e falta de atenção familiar já estão reprovados como 12, 25 e 26. Os esforços de recuperação e as transferências de estudantes não se mostraram suficientes. Além destes, boa parte da turma corre risco de reprovação, pois não se envolvem nas atividades e nas propostas: 9, 10, 14, 15, 16, 20 e 27.
Mesmo com as dificuldades que são exacerbadas nessa turma, alguns casos de destaque se apresentam como 2, 24, 28 e 31. O aluno 2 mostrou grande melhora, fazendo a melhor prova de todo o 6o ano.

Nas turmas de 8o ano, o trabalho ao longo do 3o bimestre trata do medievo. A própria ideia de Idade Média é problematizada. Apresento aos alunos um texto de Umberto Eco chamado "Dez Modos de Sonhar a Idade Média" do livro Sobre o Espelho e Outros Ensaios para conduzir a discussão. Além de filmes como El Cid, O Nome da Rosa e Coração Valente (O Incrível Exército Brancaleone deu problema e acabou não sendo exibido). Por fim, eles são convidados a apresentar seus próprios entendimentos sobre a Idade Média européia, além de construírem seminários sobre idades médias da China, Índia, América, África e Oriente Médio.
Esse ano em que inverti o 2o e o 3o bimestre do ano passado mostrou algumas dificuldades. Estudar a Revolução Francesa antes da Idade Média exige cuidado por questões cronológicas que se perdem. Minha ideia é uma arqueologia, mas isso não significa esquecer ou ignorar a cronologia, mas sim ir além dela. O feudalismo como modelo distinto do que era praticado no mundo antigo, mas também do capitalismo vindouro e atual é o que norteia meu intento.

O 8o ano A é uma turma maravilhosa. Os estudantes são maduros e estão bem preparados para a caminhada do processo de aprendizagem. Quatro dos cinco melhores seminários foram apresentados nessa sala. São destaques 7, 12, 15, 18, 23, 27 e 28. Os únicos casos que destoam e já estão reprovados são 2, 13, 14 e 29.

O 8o ano B apresenta algumas dificuldades associadas aos estudantes portadores de necessidades especiais 3, 26 e 29.Além disso, mesmo os educandos mais bem embasados parecem se deixar contagias pelas dificuldades da turma, havendo poucas lideranças positivas capazes de contagiar os demais. Verdadeiro destaque é apenas a aluna 25.
Por outro lado, já estão reprovados 1, 5 e 32, todos repetentes e marcados pelo desinteresse e evasão. A aluna 9 mostrou significativa melhora, mas ela, 18 e 23 ainda requerem atenção cuidadosa.

O 8o ano C é minha turma mais difícil de trabalhar pelo grande número de adolescente por metro quadrado. Além disso, o aluno 35, com problemas com drogas e sociabilidade perturba o ambiente. Há um grande número de estudantes agitados, muita conversa e dificuldade em entendimento de conceitos mais elaborados. Já estão reprovados 2, 8, 19, 34, 35 e 36. Além destes, há um grande grupo que não parece apto a seguir, principalmente, 3, 15, 20, 24.
Mesmo assim, alguns destaques conseguem se apresentar: 1, 22 e 25.

O 8o ano H, turma toda formada por alunos com histórico de repetência, evasão e problemas familiares e de aprendizagem mostrou que o trabalho pode render ótimos frutos, como o seminário sobre Idade Média da China apresentado nessa turma, mas não pode baixar a guarda. Podem ser considerados destaques 6 e 21, que estão aptos a seguir para o 9o ano. A maioria dos que ainda frequentam a escola e sobreviveram aos casos de desinteresse agudo dão mostra de que a maior parte irá progredir. Casos que pedem atenção particular são 10, 13, 24, 25, 30, 31. já estão reprovados, principalmente por faltas: 1, 8, 14, 23, 33, 35 e 41.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Dias felizes



Salve salve pessoas.. complementando o último post Dias Difíceis, venho hoje contar sobre uma nobre visita às minhas salas de aula hoje. Meu grande amigo Paulo Thiago foi comigo lá pra escola hoje assistir umas aulas, conhecer a escola, trocar ideia com a molecada e outras coisas mais. Até dar aula para uma das minhas turmas de 6o ano ele deu. Foi uma experiência sensacional, onde os estudantes ficaram muito interessados e onde eu pude discutir a minha prática e o meu cotidiano com uma pessoa que respeito enormemente, além de ser um grande amigo há quase 15 anos. 
É sempre bom dialogar e ampliar nossos horizontes. O dia de hoje permitiu a satisfação de perceber que os bons trabalhos podem sim ser multiplicados, articulados, semeados e desenvolvidos. Se pra reclamar tem muitos, também tem aqueles que querem fazer, que querem mudar. Obrigado pela visita, meu querido, e seja sempre bem vindo.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Dias difíceis


Salve pessoas. Hoje, eu tive um dia daqueles. Dos que fazem você duvidar se adianta.. se é possível.. enfim... vou começar pelo final e fazer a arqueologia do processo:
Um aluno de 6o ano, já repetente, que toma remédios e tem histórico de dificuldades de relacionamento agrediu outro aluno de 6o ano na saída da escola. Eu só vi os estragos e ouvi os relatos. Corri atrás de resolver o problema. Conversei com o agredido, expliquei pra ele que era um caso de polícia e tentei tranquilizá-lo. Ele foi agredido por pelo menos 4 outros alunos (sendo 3 da minha escola e 1 ex-aluno da escola).
Os dois principais envolvidos são de turmas diferente e estiveram suspensos juntos ontem na biblioteca. Algum bate-boca iniciado lá terminou com a agressão de hoje. O ex-aluno da escola, amigo do agressor principal, inclusive golpeou o agredido com o pneu da bicicleta, o que causou a lesão principal. Liguei para a mãe do aluno agredido, que estava no trabalho no Plano. Levei o filho dela pra casa de carro e a direção ligou pra mãe do agressor, que não demorou a aparecer na escola. Ele foi suspenso, vai ser transferido e acha que é a vítima e não o culpado. A escola registrou tudo e a mãe do agredido vai amanhã, sendo que eu já recomendei registrar ocorrência, mas as pessoas geralmente desistem.
O agressor principal foi meu aluno ano passado. Tem um histórico muito difícil e toma remédios controlados. Ele já vinha transferido de outra escola por ter brigado com o guarda do portão. Eu gastei muita energia com ele e consegui estabelecer uma relação de confiança. Ainda assim, ele acabou evadindo. Esse ano voltou, perdendo o início do ano letivo e o coloquei na turma que sou conselheiro para administrar o problema mais de frente. Conversei muito com ele, mas ele rapidamente se alinhou com os outros dois alunos problema da turma, um dos quais também participou da agressão.  Os 3 foram suspensos na terça-feira por uma brincadeira com barbantes que machucou uma colega de turma. Passaram a quarta-feira suspensos na biblioteca realizando atividades que eu supervisiono como posso, indo entre as aulas ou enquanto a turma copia algo do quadro. 
Hoje mesmo, durante o intervalo, eu tinha conversado com a mãe dele e ele, falando sobre como ele tinha que mudar, respeitar a mãe dele, se esforçar e parar de andar com os outros dois. Quase vinte minutos de conversa. (Essas conversas sempre implicam em choro, porque eu falo do meu pai).
O agredido é um ótimo aluno, com boas notas e comportamento dentro da média. Foi suspenso pela primeira vez e por um deslize. Eu o suspendi para lhe  ensinar uma lição, que quando fosse na onda dos outros, ele ia se lascar junto. Ele chorou, tentou dizer que não era tão culpado assim. A mãe veio à escola no dia seguinte (ontem). Expliquei o motivo e garanti que ele era um bom aluno, mas que precisava perceber o preço dos atos dele. Ele cumpriu muito bem a atividade da suspensão. Além disso, leu um livro sobre mitologia grega que mostrei pra ele.
Eu sei que a culpa não é minha, até porque saí do mundo da culpa faz tempo. Mas me sinto responsável, o mesmo que me move é o que me fustiga. A responsabilidade que me faz tentar mesmo com tanta pedra no caminho é a mesma que me castiga numa hora dessas. Eu cruzei o caminho dos dois e não impedi a culminância grave da situação. Tô arrasado. Pra vocês verem que nem só de "Fica Jorge" vive o homem.. e agora tô pensando sobre o que fazer.. o que vem pela frente. Vamos ver. Amanhã, vai ser outro dia...

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Fica Jorge



Salve pessoas... hoje vou tomar a liberdade de falar sobre um acontecimento um tanto extraordinário que se deu comigo lá na escola, na sexta feira passada (dia 23/08). Meus estudantes organizaram uma manifestação para que eu não saia da escola no final do ano. Para explicar melhor, eu me inscrevi no concurso de remoção da secretaria de educação para tentar vir trabalhar mais perto de casa, pois o CEF 308 do Recanto das Emas fica a 30 km da minha humilde residência. Além disso, o desgaste da rotina na escola e outras questões deram o empurrãozinho que faltava. Porém, contudo, todavia, eis que me vi cercado de uma massa de alunos empunhando cartazes aos gritos de "Fica Jorge". Além deles, os professores, direção e outros funcionários da escola apoiaram o processo e também participaram. Não sei nem quantas vezes chorei e foi difícil dar aula depois. Ainda assim, consegui trocar muitas ideias, consegui falar dos meus sonhos e das minhas práticas. Lembrei pra todo mundo que a vida não é ficar triste pelo que não mais haverá, mas sim em saborear o que houve. As sementes foram e continuarão a ser plantadas onde quer que seja.
Depois disso tudo foi difícil dizer tchau. Prometi pensar a respeito e realmente estou pensando. Sempre fui uma pessoa mais de ficar do que de ir, mas desconfio se é o melhor pra mim. Seja como for, certamente foi o maior presente que já ganhei como professor. Uma bela representação de que a vida sabe aplaudir os nossos esforços. É preciso amar o que se faz e é preciso fazer com amor. Depois de cinco anos posso me dar ao luxo de dizer que sou um grande professor, um grande educador e que ainda pretendo ser muito melhor, porque ainda tem muito chão nessa estrada e muito horizonte pela frente. Viajar é preciso e eu viajo em tudo que faço.
Cheguei a conversar com os professores sobre minha ideias revolucionárias. Faça o que tu queres, pois é tudo da lei... vamos ver. Antes da manifestação, eu fiz uma apresentação sobre avaliação para os professores no período da coordenação geral (pros dois turnos). Essa experiência já foi bem interessante e me permitiu apresentar alguns dos meus entendimentos sobre o trabalho que estamos fazendo lá. Com os pedidos tão sinceros e tão sentidos, eu estou disposto a tentar romper de vez com o modelo de ensino tradicional e redimensionar nossa prática com um projeto político pedagógico real e dinâmico. Como eu disse.. vamos ver.

Algumas ideias:
- Salas de aula ambiente (cada professor tem a sua e os alunos que trocam de sala).
- Avaliações cooperativas e diagnósticas
- Biblioteca, quadra e sala de vídeo (e outros lugares da escola) como espaços educativos
- Montagem de turmas e intervenções diretivas ao longo do ano
- Fim das subidas de aula e planejamento letivo
- Desenvolvimento da disciplina como condição de liberdade e não como mera repressão

Vídeo da manifestação:

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

África, viagens e sala de aula


Salve pessoas, acabei de retornar da África do Sul e Namíbia recheado de experiências únicas e vivências diferenciadas. Como tudo que me acontece, vem ressoar na sala de aula o eco desses passos. Preparei um conjunto de 51 imagens produzidas durante a jornada que não só dão a ler um pouco da minha experiência, como também são capazes de suscitar a reflexão, tanto com as turmas de 6o ano quanto de 8o ano.
A sala de aula deve ser um espaço multiplicador de vivências, bem como uma janela ampla para olhares diversos. O continente africano é enormemente silenciado durante nossa formação, sendo tratado na maioria das vezes através de generalizações simplistas ou estereótipos ultrapassados. Somos acostumados a olhar para um vasto continente com pena pela sua miséria, pelo seu atraso. A viagem teve um grande impacto em mim nesse sentido, por me permitir ver algumas especificidades que conformam esse caleidoscópio que classificamos como Africa. Tentei transmitir esse impacto e refletir sobre as razões do poder hegemônico de tais ranços. Entendo que não é apenas uma questão de incluir histórias africanas, como já é exigido por lei (10.639/03), pois isso redunda no mesmo conteudismo de sempre. A questão é muito mais desconstruir essa África que nos é imposta todo o tempo, refletir sobre as razões de sua permanência e experimentar novas possibilidades de historicizar a cultura e as vivências de um continente tão próximo e tão diverso. Eu percebi diálogos íntimos e diferenças significativas entre os dois lados desse mundo atlântico. Que elemento interessante para a discussão da ideia de nação com estudantes de 8o ano, um país com 11 idiomas oficiais, por exemplo.
Algumas questões se destacaram na conversa: a relação homem e natureza; as heranças do apartheid; sítios arqueológicos e evolução do ser humano; a importância de viajar e as grandes navegações; nação e diversidade sul-africana.
Viajar é preciso, já dizia o Pessoa. Refletir também. Trocar experiências ainda mais. A sala de aula é um mundo e o mundo tem que ser a nossa sala de aula.







sexta-feira, 5 de julho de 2013

Avaliação, resultados, novos diagnósticos e fim do 2o bimestre

6o ano C

Salve salve pessoas.. lá se foi metade do ano. Muita coisa pensada ao fim do 1o bimestre foi posta em prática, bons resultados se deram, ainda que as coisas estejam longe de serem flores. E amanhã tem festa junina.
As turmas de modo geral colheram bons resultados. A ideia do ponto extra em história para o quem fizesse o trabalho de geografia sobre o sistema solar deu excelente resultado. A leitura do livro A Utopia atingiu as três primeiras turmas de 8o ano numa proporção um pouco menor que no ano passado. O desenvolvimento do trabalho e do texto sobre a história dos avós e do Recanto das Emas deixou o resto do bimestre um tanto corrido nas turmas de 6o ano. 
O 6o ano A é uma boa turma e a que sofreu uma queda nesse bimestre. Os alunos são novos e pequenos, muitas vezes infantis em excesso. Nessa turma, 10 dos 25 alunos precisam recuperar a aprendizagem. Os estudantes 1, 2, 10, 12, 24 e 27 são casos mais simples, necessitando apenas de mais empenho por parte do educandos. Os casos realmente graves são 4, 5, 18 e 26. Estes estudantes tem faltado, baixo desempenho, dificuldade de leitura, problemas de socialização. Os estudantes 5 e 26 tiveram melhora nas notas, mas ainda requerem muita atenção; 4 e 18 tiveram queda, representando casos mais preocupantes para o 2o semestre com intervenção direta e de todos. O aluno 11 é o mais grave, já estando reprovado e devendo ser pensado em um processo de ano e meio agora. Destaque para 15 e 22.
O 6o ano B continuou sendo a turma com desempenho mais fraco. Alguns estudantes com dificuldades que não tinham se destacado no 1o bimestre tornaram-se perceptíveis, assim como problemas disciplinares se acentuaram. A professora conselheira dessa turma faz um excelente trabalho de acompanhamento, mas mesmo assim é a turma com menos dedicação aos trabalhos e tarefas. Há um grande número de alunos com dificuldades graves, bem como alguns repetentes tem se mostrado persistentes naquilo que os atrapalha. O educando 27 é o caso mais grave, mas 11 também tem retornado ao comportamento alheio do ano passado. 27 será transferida de turma, enquanto que 11 precisa de um acompanhamento firme. Além deles, 5, 7, 9, 10, 12, 15, 24 estão deixando de atingir as possibilidades cognitivas necessárias para passar de ano. O aluno 30 é um caso grave que estou acompanhando diretamente por conta de problemas familiares específicos, não é caso de aprovação ou reprovação, mas sim de ressocialização de um indivíduo. Além destes, 2, 4, 20 e 21 merecem atenção menos intensa. Destaque para 16 e 29.
O 6o ano C, turma em que sou o professor conselheiro, saiu da rabeira para tornar-se a segunda melhor em notas. Durante todo o bimestre anterior, por conta das demandas disciplinares do 7o ano H, eu confesso que negligenciei a turma. Corrigi isso no 2o bimestre, tendo muitas conversas com eles, atuando sobre os casos de indisciplina e conflito problemático, utilizando a gincana da festa junina para criar uma cultura de cooperação e solidariedade. Ainda tem muito chão nessa estrada, mas já conseguimos avançar bastante. Essa turma, por exemplo, foi a única onde todos os estudantes fizeram o trabalho de geografia. Ainda assim, os casos mais graves são 9 e 17, os que mostraram pouquíssimo interesse em recuperar-se ou integrar-se à turma. Além deles, 1 e 10 também merecem acompanhamento constante para que desenvolvam suas aprendizagens. Por sua vez, 5, 7, 11, 16, 19, 25, 27 e 28, em sua maior parte, casos igualmente graves no 1o bimestre, tiveram melhora no 2o bimestre e necessitam de cuidado, mas parecem capazes de caminharem no ritmo. Os destaques 4, 6 e 12 estão entre os melhores de todo o 6o ano.
O 6o ano D não teve uma queda tão sensível de desempenho, mas está cada vez mais afetada pelos conflitos de ser uma turma numerosa e com alguns meninos muito pilhados. Os casos problemáticos são numerosas e bem específicos em seus casos: o aluno 20 tem sérias dificuldades cognitivas e baixa alfabetização; a estudante 12 falta em demasia; 10 tem sérios problemas disciplinares; 6 tem dificuldades cognitivas e sofria com a falta do óculos, a solução disso já melhorou um pouco seu desempenho; 29 falta e tem dificuldades na leitura e escrita. Além destes, se destacam na indisciplina 8 e 27. Outros casos que demandam atenção são 3, 5, 17, 25, 26 e 33. São destaques 4 e 11, mas 16 e 28 são dois repetentes que mudaram e merecem ser lembrados.
O 6o ano E foi a turma de melhor turma em termos de nota, muito embora o aspecto disciplinar tenha piorado. Houve uma troca do professor conselheiro, o que gerou algumas readaptações sem que a professora de Educação Física deixasse de acompanhar a turma. Também é um fator de tensão o constante ingresso e saída de estudantes dessa turma. Os casos mais graves são dos alunos 28 e 31, cujo comportamento não só atrapalha eles mesmos, como perturba todo o ambiente. O estudante 31 já está reprovado e o 28 está praticamente (ambos já tem histórico de repetência). Também já está reprovada a aluna 26, pelo total desinteresse e despreparo. Seu caso tem que ser pensado em um novo ciclo agora. Caso difícil, mas com mais esperança é da educanda 2, que também é repetente e vem demonstrando as mesmas dificuldades do ano anterior. Outros casos que merecem cuidado são 4, 20, 21 e 29.  Merecem destaque 7, 23, 24 e 25.
O 6o ano F também padece pelo grande trânsito de alunos, pelo número alto de evasões e pela indisciplina recorrente. Os principais educando com problemas são os que aparecem muito pouco, como 23, 26 e 29. Chamam a atenção pelas dificuldades cognitivas os estudantes 12, 17 e 25. Todos esses casos citados são complexos e não serão resolvidos em 1 semestre. Todos esses estudantes tem questões familiares e pessoais que os afasta da aprendizagem escolar e é preciso alcançá-los de outra maneira. O caso deles é próximo ao das alunas 13 e 33, que já recebem um tratamento diferenciado de acordo com seus perfis clínicos e sociais conhecidos pela equipe de professores. Além disso, existem numerosos outros casos cujas carências de aprendizagem formal podem ser conduzidas com maior sucesso e creio que deva ser o foco aqui. Os estudantes 5, 6, 9, 10, 16, 18, 20 podem correr atrás do prejuízo e desenvolver seus interesses em consonância com os demais colegas com apoio e dedicação. Merecem destaque 11 e 31.
O 8o ano A é a turma dos meus sonhos e dos sonhos de muitos professores. Ainda que com pequenos problemas pontuais, eles tem o privilégio de ter uma professora conselheira cheia de boas ideias e serem um grupo de gente interessada, com sede de saber. Meus principal destaque é o estudante 18, que ouso dizer ser o mais inteligente que já tive (ele conseguiu uma bolsa na Noruega pra se ter uma ideia). Além dele, me enchem de orgulho e satisfação 4, 7, 12, 15, 23, 27 e 28. Também são aprendizes sensacionais 1, 10, 11, 19, 20, 21, 22, 24 e 31, muito embora alguns destes possam expressar melhor seus processos cognitivos. Os problemas pontuais ficaram por conta das alunas 2 e 17, além dos casos de estudantes chegados durante o ano. A queda da aluna 17 está sendo tratada e o pouco desinteresse da aluna 2 não foi suficiente para sanar o total desinteresse do 1o bimestre. Ela e os alunos novos não parecem interessados nas demandas escolares. Necessitam de alguma atenção os estudantes 6, 9, 14 e 26.
O 8o ano B mostrou significativa melhora em relação ao 1o bimestre. Ainda assim, um pequeno grupo perdeu-se entre seus conflitos de adolescentes e negligenciou o contexto da sala de aula. O problema mais significativo foi disciplinar com a estudante 4, que será transferida de sala no 2o semestre. Na questão cognitiva, tiveram especial dificuldade os estudantes 5, 9, 13 e 32, que passarão pelo processo de recuperação mais árduo. Outros casos que também precisam de acompanhamento, mas estão em um processo mais desenvolvido são 1, 11, 18 e 23. Merecem destaque 2, 6, 7, 22 e 25.
O 8o ano C apresentou sérios problemas disciplinares e queda nas notas, em especial na prova bimestral. Um grupo tem sido afetado diretamente pela indisciplina, enquanto outros tem dificuldades de acompanhar conceitos, leituras e interpretações desenvolvidos. O tamanho da turma atrapalha. Os casos mais graves e que implicam o desenvolvimento de um novo ciclo para integrá-los de forma diferenciada são dos educandos 2, 8, 19, 34, 35 e 36. Ainda assim, praticamente toda a turma precisa de um acompanhamento mais cuidadoso, onde conceitos e práticas precisam ser explicitadas de maneiras além do tradicional. Precisam de um processo mais intenso de recuperação os alunos 7, 9, 13, 17, 20, 23, 30 e 31. Além destes, precisam de um acompanhamento e orientação, os estudantes 3, 4, 5, 10, 11, 12, 15, 18, 21, 24, 26 e 28. Merecem destaque 1, 16, 22 e 25.
O 8o ano H é a turma que passou por mudanças mais significativas. Por ser uma turma onde todos os alunos tem histórico de repetência e vários de indisciplina, os conflitos são mais intensos e acentuados. Um grande número de alunos evadiu da escola e uma boa parte tem problemas com faltas. Além disso, após constantes conversas e desenvolvimentos, alguns alunos precisaram ser transferidos da escola. Ao final, dos mais de 30 alunos matriculados na turma, hoje temos 15 com chances reais e interesse na aprovação. Os casos mais bem encaminhados são dos estudantes 6, 21 e 27. Outros casos que tem boa perspectiva pelo interesse são 3, 16, 17, 20, 24, 30 e 31. Precisam de cuidado com as faltas 12 e 13. Necessitam de um acompanhamento mais atento os alunos 1, 7, 23, 25 e 34.

6o ano F

quinta-feira, 20 de junho de 2013

A Guerra do Fogo


Salve pessoas.. hoje comecei a passar o filme A Guerra do Fogo de Jean-Jacques Annaud. Pra começar, esse filme (na minha modesta opinião) é uma obra-prima, um dos 10 melhores de todos os tempos. Ele chega como a culminância da discussão da evolução do ser humano, dos ancestrais do homem moderno e da idade das cavernas (me recuso a chamar de pré-história, pois nada é antes da história). Para quem não conhece, o filme fala sobre as aventuras de três neandertais em busca de fogo após sua tribo ser atacada.
A sensibilidade do diretor e a expressividade dos atores é capaz de fazer os alunos refletirem sobre esse mundo alienígena que é o paleolítico. É o melhor recurso áudio-visual que já utilizei. Diversas cenas merecem destaque:
- A cena inicial em que o mais brutamonte do trio de "caçadores do fogo" aparece guardando a entrada da caverna ao lado de uma grande fogueira, enquanto a tribo dorme. O guardião pega uma lenha em chamas e atira contra um grupo de lobos que rondam a caverna. Os animais fogem espantados e ganindo, mostrando aí uma importante diferença dos hominídeos como dominadores do fogo. Isso possibilitou sobreviver a predadores e manter mais segurança.
- A cena após o ataque, quando reunidos e desolados, os sobreviventes da tribo vêem-se em um pântano frio e sombrio, ilhados do mundo. Lobos espreitam ao redor e estão feridos e assustados. Ao verem o portador do fogo surgir, suas esperanças se renovam, mas ao tentar alcançar os outros, o fogo se apaga. Um esforço coletivo é feito para salvar o fogo. Assistimos ao líder do trio de caçadores do fogo até o último sopro tentar, em vão, salvar uma última brasa. O fogo como a força vital daquele grupo.
- A cena em que o trio fica cercado por um par de dentes-de-sabre em uma árvore é interessante pelo lado cômico e da alimentação.
- A cena em que os três caçadores encontram os restos de uma fogueira é sublime. Tomados pelo estase, os neandertais rolam nas cinzas como que possuídos pela felicidade. O fogo está próximo. É como um deus da vida e da esperança para eles. Enquanto rolam, encontram restos de carne e passam a se alimentar. O horror os invade quando descobrem através de um crânio serem restos humanos. A ideia do canibalismo como um limite à ideia de humanidade salta aos olhos. Aquilo que parecia a salvação, agora pode ser a destruição.
- A cena em que o trio já reunido com a mulher homo sapiens sapiens acende a primeira fogueira também é maravilhosa. Vale aqui destacar a figura da mulher, que além de trazer os conflitos de gênero para a trama, representa o contraste entre sapiens sapiens e neandertais. Ela sabe produzir remédios para curar feridas, ela possui um idioma complexo, ela pinta o próprio corpo, todas coisas estranhas para os neandertais. Estes que até esse momento do filme eram os "mais evoluídos" são postos agora como "menos evoluídos". O ápice desse desenvolvimento se dá com a chegada deles à tribo dos homo sapiens sapiens. Voltando à cena da fogueira, a dança dos três ao redor do fogo é magnífica, expressando a grandiosidade daquele momento pelo qual esperaram e lutaram.
Quando desperta, o grupo percebe que está cercado pelos hominídeos de quem roubaram o fogo. O surgimento de uma manada de mamutes paralisa as ações. O líder dos neandertais decide tentar aproximar-se dos animais, mesmo com medo, pois percebe o medo maior dos inimigos. Oferecendo capim, ele consegue aproximar-se dos mamutes e passar por eles sem problemas. Seus amigos fazem o mesmo, mas quando os numerosos inimigos avançam, os mamutes investem em carga temendo um ataque. Não só a inteligência vence a força, mas a domesticação dos animais surge como uma questão a ser tratada.
- A cena mais impactante e importante do filme é a cena em que a mulher sapiens sapiens faz o fogo diante do líder dos neandertais. Essa cena é de uma perfeição capaz de capturar o imaginário dos estudantes de 10 a 11 anos. Cada passo meticuloso do processo vai sendo acompanhado pela aflição do neandertal, que só entende a razão daquilo quando o movimento das madeiras gera a brasa. Era como se aquela mulher fosse capaz de criar o deus que ele só encontrava na natureza. Ele nunca havia visto o fogo ser feito do nada. 
Esse momento se repete quando eles retornam à tribo e mostram o processo de fazer fogo aos outros neandertais.
- Outra questão sensacional é a do riso. Numa cena inicial, quando a mulher se integra ao grupo. Uma pedra cai sobre a cabeça de um deles, o que arranca dela imensas gargalhadas, enquanto os três ficam perplexos sem entender. Mais à frente, quando eles deixam para trás a tribo dos sapiens sapiens, o mais forte (que não é o líder) deles deixa cair uma pedra sobre a cabeça do companheiro mais fraco. Ainda que isso rache a cabeça do coitado, todos se esborracham de rir. A expressão da alegria e mais uma vez a dimensão da aprendizagem como parte das experiências humanas. 
- Uma das questões mais bem trabalhadas do filme e mais delicadas é a da sexualidade. Quando a mulher entra para o grupo, o mais forte tenta tomá-la, mas ela busca refúgio no líder, que para "salvá-la" do companheiro, tem que ele violentá-la, fazendo dela sua companheira. As cenas de sexo são fortes e eu prefiro saltá-las nas turmas de 6o ano, pois acaba eclipsando o restante. Várias discussões surgem da relação entre os dois: a fuga dela, o modo como ela o ensina a fazer amor ao invés do sexo animalesco, a preferência dela por seguir com ele, quando os companheiros vem resgatá-lo da tribo de sapiens sapiens.
É belíssima a cena (que termina com a do riso) em que ela está pintando o próprio corpo com carvão e ele a ajuda se pintar, como se mostrasse que ele não teria de deixar sua cultura, sua identidade para seguir com ele.
- A cena final em que o casal neandertal e sapiens sapiens observam a lua, enquanto ele acaricia a barriga dela, que está grávida, mostra outra questão ensejada no filme. Apesar de ser de 1981, ao contrário das teorias mais fortes da época, o diretor apresenta a ideia de cruzamento entre neandertais e sapiens sapiens. Nos dias de hoje, os estudos usando a genética dão conta que parte do dna do homem moderno vem dos neandertais. Evoluir nem sempre é competir.
Espero que isso possa ajudar os interessados em passar o filme. Ele é muito comentado, ilustra muito livro didático por aí, mas poucos trazem-no para o espaço de experiência dos educando. Mais do que aprender a linha evolutiva do homem, podemos imaginar as possibilidades do ser humano.


sexta-feira, 7 de junho de 2013

Livros didáticos de história - Ensino Fundamental (6o ano)


Salve salve pessoas, mais uma vez chegou a hora de escolher os livros didáticos para o próximo triênio pelo Programa Nacional do Livro Didático. Numa análise preliminar dos títulos que recebi, vi uma melhora gráfica significativa, mas muito mais do mesmo na parte conceitual, metodológica e conteudística. Verdade que tive algumas boas surpresas como a coleção link e uma certa ruptura no saber e fazer história. No geral, prevalece muito mais do mesmo. Acho que para quem gosta de um trabalho diferenciado, o História Temática da editora Scipione da Conceição Cabrini e outros ainda é o melhor. Ainda não recebi o novo, mas creio que não deva demorar. Conforme novos livros forem chegando, vou incorporando ao começo da postagem.

Projeto Velear: História de Andrea Montellato, Conceição Cabrini e Roberto Catelli. Editora Scipione.
Este livro é a nova versão da antiga coleção História Temática, que eu utilizei até ano passado. Esta sendo a última coleção analisada por mim, porque a editora repetidamente falhou em me encaminhar uma para ser analisada. Insisti nela após analisar todas as outras e hoje peguei na escola meus livros do professor. Minha primeira impressão não foi boa, pois a capa mudou. Anteriormente, eram usadas imagens de peças de artes representativas dos temas a serem abordados no livro. No caso do 6o ano, tratava-se do close do rosto de uma estátua egípcia, uma vez que os eixos-temáticos são tempo e culturas. A atual edição trás a imagem de uma construção e um vaso, ambos gregos, encobertos por uma enorme hexógono amarelo sob o qual há um relógio, que forma uma espiral de tempo. Nenhuma das imagens é identificada no interior do livro.
Após a apresentação dos autores, todos formados em história, há a apresentação do livro, com um pequeno texto sobre uma primeira aula de história. Também vi um perda aqui, pois o texto anteriormente utilizado aludia ao ambiente familiar e às experiências prévias dos educandos, além de ter um caráter mais lúdico. O texto atual trata da análise de uma imagem de uma urna funerário, onde os estudantes são instigados a perguntar. Já são apresentadas ideias como a história relativa ao presente, seu caráter comparativo, a análise das fontes.
Com o novo formato da coleção, os eixos temáticos embora continuem, possuem menor visibilidade, uma vez que antes vinha logo após o nome da coleção em cada livro e agora apenas são mencionados no manual do professor. Apesar disso, os eixos Tempo e Culturas foi mantido, assim como as quatro unidades: História e Memória, Tempo Medido e Tempo Vivido, Sociedades e Culturas, Cidades. A primeira unidade é dividida em dois capítulos, onde se discute o conceito de história através de sua relação com as vivências, a relação entre história e a memória e história e diversidade. Na segunda unidade, temos três capítulos sobre tempo e as temporalidades. A unidade três explora a importância da arqueologia, a questão evolutiva e a formação dos seres humanos, assim como o povoamento da América e seus habitantes. A última unidade divide-se em três capítulos onde a cidade enquanto fenômeno humano é analisada. Muito embora, valorize-se uma noção de origem, há uma valorização da diversidade humana na construção das cidades. A diversidade cultural humana se mostra em cidades mesopotâmicas, egípcias e gregas.
Infelizmente, apesar do livro ter sofrido uma repaginada visual, com novas imagens, textos e atividades, conceitos como "pré-história" e "origem" ainda balizam o tratamento dos temas. Basicamente, continua a mesma coleção, mas mais atualizada e dinâmica. Ainda assim, entendo que houveram perdas em alguns sentidos. Mesmo assim, continua sendo o melhor livro para 6o ano na minha opinião.

Por Dentro da História de Pedro Santiago, Célia Cerqueira e Maria Aparecida Pontes. Editora Escala Educacional.
A capa do livro trás a imagem de uma estátua de mulher em estilo grego e um vaso da mesma cultura sobre o fundo formado por pinturas rupestres, deixando claro o recorte temporal da obra: do paleolítico à origem da civilização ocidental representada pela Grécia Antiga. Toda a coleção trás a imagem de mulheres, o que sugere o interesse por outros sujeitos históricos. Embora a proposta da coleção pretenda fugir do viés mais tradicional, acaba por recorrentemente reafirmá-lo, ainda que com um discurso mais atual. A equipe de autores é encabeçada por um mestre em história, uma bibliotecária e uma pedagoga. No entanto, não senti reflexos didáticos ou bibliográficos que contem à favor dessa diversidade.
O livro é dividido em unidades e estas em capítulo com um recorte cronológico e espacial. Como sempre, há uma introdução (sequer um capítulo) para tratar dos conceitos históricos como cultura e tempo. A prática do historiador é comparada ao do detetive. A primeira unidade com dois capítulos trata da origem dos seres humanos. Embora a abordagem siga o modelo de explicação evolucionista costumeiro, é crítico e evita o uso de termos problemáticos como pré-história. Na unidade 2, o rotineiro etapismo das civilizações é precedido de um capítulo sobre a diversidade cultural e os processos centrais que serão analisados nos capítulos posteriores. Seguem-se capítulos sobre Mesopotâmia, Egito, hebreus, fenícios, persas para a eterna culminância de Grécia e Roma.
Durante os capítulos, existem exercícios diretivos ao final, bom material extra com textos e mitos. As imagens são bem escolhidas e os inícios das unidades são bem aproveitados. São colocadas questões atuais para a reflexão e o próprio saber científico é apresentado como algo político e construído. Existe um grande número de sites, bibliografia e filmes sugeridos na seção conecte-se. Dentro das coleções tradicionais, me parece uma boa opção.

Leituras da História de Oldimar Cardoso. Editora Escala Educacional.
A capa do livro trás uma sequência de pequenas imagens (pinturas rupestres, uma pintura egípcia de embalsamamento, um sábio chinês, soldados do palácio de Dario da Pérsia, uma batalha naval antiga e uma cena cristã em estilo medieval), sobre o pano de fundo do Coliseu atual, simplesmente resumindo os conteúdos do livro, bem como realçado seu viés cronológico, etapista de civilização. O autor é pós-doutor em didática da história, doutor em educação, mas isso não se reflete no tratamento do conteúdo, que é exaustivo. O livro possui 23 capítulos se estendendo até o fim da Idade Média. Há uma pretensão de esgotar todo o processo de formação da civilização ocidental, "nossas origens", bem como dar conta dos acréscimos de China e Índia. A atenção para a África subsaariana e para os povos ameríndios não é a mesma. Além disso, não há tempo e espaço para tratar de conceitos históricos, apenas mais e mais conteúdo pronto com conceitos não discutidos e explorados .
Embora o livro tenha uma linguagem atraente, reafirma todo tempo valores tradicionais, conceitos problemáticos. A cronologia é sempre valorizada. Os textos são dinâmicos e recheados de links laterais bem integrados às imagens. Estas são sempre ilustrativas. A diagramação é tradicional e a qualidade gráfica é mediana. Os exercícios são diretivos e em pouca quantidade. Também existe pouca indicação de filmes e sites. Um livro grande, pesado e deslocado das necessidades atuais na minha opinião.

Coleção Link - História de Denise Mattos Marino e Léo Stampacchio. Editora IBEP.
Esse livro de aparência despretensiosa foi uma surpresa muito boa. A capa parece querer passar a ideia de modernidade e conectividade com círculos interligados. O livro é relativamente fino para o padrão sem que isso prejudique o conteúdo.
É um dos raros livros de história temáticos. O interior trás uma verdadeira ruptura com os conteúdos tradicionais de ensino da história. O livro é dividido em 4 unidades temáticas bem definidas e descritas. Estas não se dividem em capítulos, embora a estrutura da diagramação seja próxima disso para apresentar os tópicos.
No principio é um tanto desconcertante, mas os textos conseguem manter o andamento das incursões por diferentes períodos históricos para abordar cada tema. Ao contrário do que se pensa, a linearidade não é abolida ou combatida, mas deixa de ser a única opção.
A primeira unidade é dedicada à "expansão do ser humano pelo planeta e relações de propriedade da terra". O texto se inicia tratando do espaço e da corrida espacial, enquanto que as atividades e propostas de discussão vão surgindo ao longo do texto. Uso da imaginação e o surgimento do ser humano. Egito, Mesopotâmia, Brasil colônia. Textos paralelos, mas diagramação tradicional. As sugestões de leituras complementares e filmografia são excelentes. Faltam atividades interpretativas.
A unidade 2 trata das relações entre o ser humano, a natureza e a sociedade através do trabalho. Revolução agrícola, divisão do trabalho, revolução urbana, trabalho e tempo (desenvolvimento do conceito). Conceitos como história e tempo vão sendo aprofundados ao longo do caminho, não ficando restritos a um ou dois capítulos iniciais.
A unidade 3 trás a questão da tecnologia e a 4 trata do desenvolvimento da linguagem. Em ambas continua a proposta de desenvolver o tema através de incursões por variados períodos históricos.
Existem alguns erros de português que evidenciam um descuido no rigor da produção gráfica do livro, mas certamente foi a obre diferenciada que pude analisar.

Coleção Para Viver Juntos de Débora Yumi Motooka e Muryatan Santana Barbosa. Editora SM.
A capa trás a imagem de vasos marajoaras, o que pode sugerir uma maior atenção aos povos ameríndios, muito embora isso não se constate no interior da obra. O caráter enciclopédico prevalece nos 9 capítulos divididos em módulos, que de maneira exaustiva tenta dar conta de um conteúdo que se estende até a Contrareforma.
A introdução serve para apresentar os conceitos históricos: memória, tempo. Segue-se o primeiro capítulo, com a noção de origem da humanidade. Fica muito nítido o viés de pré-vestibular do livro, que trás os conteúdos de maneira excessivamente resumida, quase que pontual, além de trazer atividades diretivas a cada módulo. Existem indicações dos tópicos principais no início dos capítulos e também nas sínteses ao final dos capítulos.
Existem algumas boas imagens, mas não são maioria. A diagramação também é tradicional. As atividades são muito diretivas, pouco reflexivas e deixam a desejar. Há pouca indicação de leituras, sites e filmes.

Vontade de Saber - História de Marco Pellegrini, Adriana Dias e Keila Grinberg. Editora FTD.
Capa brega com crianças contemplando figuras como a Vênus de Milo, Gandi, um guerreiro de terracota chinês e uma estátua iorubá. O título é tão ruim quanto.
Apresenta estrutura tradicional dos conteúdos. No primeiro capítulo, trás conceitos históricos como história, fontes, sujeitos, tempo. A seguir, passa pela origem do ser humano e a sequência das civilizações segundo o etapismo linear. Mesopotâmia e o desenvolvimento urbano. A estrutura da apresentação também segue o modelo que privilegia o recorte político. Na sequência, temos economia, sociedade, cultura (religião). África antiga: egípcios e cuxitas. Egito para agricultura. Cuxitas na lógica tradicional (exemplaridade) e atendendo as exigências da lei 10.639. Os fenícios são apresentados por sua contribuição para o comércio e os hebreus no aspecto religioso com o monoteísmo. Já os persas surgem pela organização de um império. A China é apresentada pelo resumo linear de sua história político-militar. 
Na culminância, temos os gregos, através do clássico dualismo Atenas e Esparta. Ela vem como berço da civilização ocidental, que vai se desenvolver com Roma. Os romanos são tratados através de sua história político-militar.  Um capítulo para a cultura clássica para fechar: legado para o ocidente.
Figuras maravilhosas. Atividades tradicionais ao final. Diagramação de qualidade, mas tradicional.

Projeto Teláris - História: Da Pré-História à Antiguidade de Gislane Azevedo e Reinaldo Seriacopi. Editora Ática.
O problema já começa no título: etapismo linear, sequenciamento tradicional de acordo com o quadripartismo europeu, problemas na categoria pre-história, pois tudo é história e documentos escritos não são mais importantes do que outros tipos de documentos históricos.
Símbolos de hieroglifos na capa marcando as civilizações que são o foco principal do livro, no caso, a egípcia. Um dos autores é formado em língua portuguesa e outro mestre em história. O teláris do título do projeto significa tecelão, o que pode remeter a uma rede e interdisciplinariedade, mas não é o que se observa na obra.
Há uma divisão em 4 unidades temáticas (tecnologia, civilizações, diversidade, política) sem romper com a tradicional representação de um progresso civilizatório cujas etapas são completadas a cada um dos povos.
A sequência dos capítulos também segue o roteiro costumeiro dos livros didáticos de história: apresentação de conceitos básicos como história, tempo e fontes no primeiro capítulo; surgimento do ser humano, revolução agrícola e desenvolvimento urbano no segundo capítulo (destaque para a busca pelas origens); povoamento da América e as migrações dos grupos humanos. Esses dois últimos normalmente servem para quebrar o galho quanto ao dever de falar de povos indígenas e africanos cobrados pelas leis brasileiras.
A partir do capítulo 4 seguem-se as civilizações mesopotâmicas (Estado), os egípcios (agricultura), os hebreus (religião), os persas (organização de um império) e os fenícios (comércio e alfabeto fonético). Os capítulos 7, 8 e 9 trazem a diversidade exigida por um público globalizado com China, Índia e civilizações africanas.
A unidade de política segue a lógica clássica e trás "o berço do Ocidente": Grécia e Roma, terminando com a desagregação do Império Romano e as migrações dos povos germânicos.
As imagens são boas e bem grandes, embora a diagramação seja comum. Possui boas atividades, links e extras interessantes. Existem interessantes textos complementares e fechamento de unidade com análises de documentos.

Encontros com a História de Vanise Ribeiro e Carla Anastasia. Editora Positivo.
Capa com estudantes usando tecnologias em frente a monumentos. O livro tem uma diagramação moderna, mas seu conteúdo é bem tradicional. É dividido em 4 unidades na sequência etapista linear, reforçando conceitos enganosos como pré-história e origem. Apesar das unidades serem divididas em "temas", aqui essa palavra serve como sinônimo para capítulos, pois se há um tema aqui é a o progresso da civilização humana. O primeiro capítulo trata dos conceitos básicos como de costume: historiador como detetive, fonte como testemunho, patrimônio e tempo. Exercícios comuns, diretivos e tradicionais ao final dos "temas".
No capítulo 2 trata-se da origem humana. Há constante reforço das noções de origem e de pré-história, mesmo que entre aspas. Já o tema 3 começa a história política da sequência de civilizações que vai da Mesopotâmia como berço das civilizações. Os temas seguintes são os reinos africanos. o tema 5, Índia e China. Ao final, é a vez de temas sobre gregos e romanos. A estrutura é sempre na sequência política, depois economia, cultura e sociedade. Termina com Império Bizantino.
As imagens são regulares e de caráter, na maioria das vezes, meramente ilustrativo. Exercício de caráter diretivo, com pouco espaço para a reflexão, quase sempre colocados ao final do capítulo.

História, Sociedade e Cidadania de Alfredo Boulos Junior. Editora FTD.
A única com cidadania no título. Para mim, tem o melhor título dos livros da linha mais tradicional. A capa não é das melhores, mas está de acordo com a proposta da coleção de um ensino ordenado e diretivo como a carruagem chinesa de terracota da capa. 
Logo no início do livro, chama a atenção a proposta de criação de um blog da turma através de equipes. A proposta é diferenciada e pode ser bastante interessante, podendo servir como atrativo para envolver os estudantes.
A estrutura, no entanto, é totalmente tradicional. No início, os capítulos 1 e 2 tratam sobre os conceitos básicos: história, fontes históricas, cultura e tempo. Depois sequencia linear etapista com acréscimo dos africanos. Grécia e Roma até Bizantinos.
Ótimas imagens e diagramação moderna Bons exercícios, documentos, referências de livros, sites e filmes. Fechamento das unidades interessantes, mas há a presença de conceitos como origem e pré-história.
O livro vem acompanhado de 3 cds com uma boa seleção de imagens e alguns textos interessantes de caráter tradicional sobre assuntos culturais, militares ou analisando importantes obras. Há um cd apenas de atividades também de caráter diretivo e tradicional.

Projeto Radix - Raiz do Conhecimento de Cláudio Vicentino. Editora Scipione.
O autor Cláudio Vicentino é figura costumeira no mercado de livros didáticos, sendo formado em ciências sociais e professor de cursinho, o que vemos refletido na estrutura e método do livro.
No capítulo 1, como sempre, somos apresentados aos conceitos de história e tempo. No capítulo 2, conforme as exigências curriculares, a ideia de pré-história, é criticada, mas continua sendo usada.  Assim, de maneira sucinta são apresentados os desenvolvimentos da agricultura, domesticação e metalurgia.
O módulo 2 passa a tratar do povoamento da América ("pré-história da América") e povos indígenas do Brasil. Não há a mesma preocupação com  os povos africanos. Os povos americanos reaparecem no capítulo 8 com as primeiras civilizações da América. O módulo 3 trás Egito e Mesopotâmia, na costumeira sequencia de viés político-militar. A cultura vem sempre ao fim como detalhe (estrutura de cursinho).
No módulo 4 e a vez de hebreus, fenícios e persas. Nos módulos 5 a 7, discorre de maneira clássica sobre Grécia a Roma. China e Índia são relegados ao final do livro, também sob a ótica político militar, como estranhos no ninho.
O livro apresenta boas figuras, diagramação dinâmica e moderna. As atividades são boas e interessantes, mas tradicionais e diretivas, pouco reflexivas. Existem poucas referências extras, sem fechamento dos módulos que parecem sem conexão.

Saber e Fazer História de Gilberto Cotrim e Jaime Rodrigues. Editora Saraiva.
Ouso dizer que Saber e Fazer História é o livro mais tradicional de ensino de história, tanto por sua longevidade (eu tenho uma edição de 1983), quanto por seu modelo de história apresentado.
Esse livro é um dos analisados em minha dissertação de mestrado (a edição era a aprovada pelo PNLD de 2005) e na época foi o livro com mais problemas dos 7 que analisei.
A edição atual para o PNLD 2013 tem além de Gilberto Cortrim, um autor com décadas de experiência no mercado de livros didáticos, o acréscimo de Jaime Rodrigues, doutor em história social do trabalho pela UniCamp. A capa trás a imagem de um estátua romana (a musa da poesia épica Calíope) vista pela tela de um computador. Isso diz muito sobre a vitrine da história que é apresentada pelo livro e seus autores.
O conteúdo exaustivo parece ser o grande trunfo da coleção, pois os 16 capítulos estendem-se até a consolidação da Idade Média e não até o fim da Idade Antiga como as demais. A lógica que privilegia a política prevalece nos capítulos das civilizações, que seguem o costumeiro arranjo do progresso civilizacional. 
O primeiro capítulo (o único da unidade tempo e história) é dedicado à reflexão sobre conceitos: história, fontes históricas, tempo.
Os capítulos seguintes tratam das origens do ser humano e origem dos povoadores da América. A ideia de origem é forte, mas é o único até aqui que não fala em pré-história.
O livro segue a sequência tradicional: Mesopotâmia, Egito (com acréscimo de Cuxe como adendo), hebreus, fenícios, persas, China e Índia, Grécia e Roma. Não considerando suficiente, com ambição enciclopédica segue com os povos germânicos, mundo islâmico, sociedade feudal, cristandade medieval e Bizâncio. 
A obra apresenta boas imagens, mas ainda muito ilustrativas, assim como a diagramação é tradicional. Atividades tradicionais e diretivas, mas ao longo do texto. Oficina de história ao final, propostas transdisciplinares, bons sites, leituras e filmes sugeridos, mas tradicional. Bons documentos no inicio dos capítulos. 

Jornadas.hist de Maria Luísa Vaz e Silvia Panazzo. Editora Saraiva.
A capa trás um aqueduto romano localizado na França, assim como um riacho que passa sob ele. A fluidez parece ser uma ideia lançada ao público.
No entanto, o livro é distribuído em 8 unidades, que seguem o tema tradicional do progresso da civilização, ainda que o arranjo e distribuição dos capítulos fuja um pouco do padrão. Além disso, é dedicado mais espaço à reflexão de alguns temas não usuais, como um número maior de povos africanos e o Japão. 
Os 2 primeiros capítulos são dedicados à apresentação de conceitos: história, sujeito, fonte, patrimônio. O capítulo 3 é dedicado à origem da terra, mitos sobre a origem e tempo geológico. Seguido por cultura  e calendário no capítulo 4. Os capítulos trazem o mito da origem para o surgimento dos seres humanos no mundo (capítulo 5) e na América (capítulo 6) evocando além da ideia de origem, a de pré-história.
Depois disso, as civilizações são sequenciadas não por suas "contribuições" à civilização como de costume, mas por sua localização geográfica. Assim sendo, temos na unidade 4, o capítulo 7 para o Egito, o 8 para outros reinos africanos. Na unidade 5, impérios do oriente, seguem-se Mesopotâmia, persas, China, Índia e Japão. Talvez muito próximos do "centro", fenícios e hebreus são postos na unidade 6, que não tem designação de lugar, assim como Grécia e Roma que integram as duas unidades seguintes, retomando a sequência tradicional. Prevalece ainda o viés político com a ordem quase eterna política, sociedade, economia e cultura.
Destacam-se as imagens, que são ótimas, grandes e bem utilizadas como elemento para a reflexão. A diagramação é bastante dinâmica. Outra qualidade é que os exercícios e atividades são colocados ao longo do texto. Pontos principais são destacados no começo do capítulo, uma seção "teia do saber" ao final serve como fecho, mas as questões muitas vezes são diretivas. Também merecem destaque as propostas de pesquisa na área "procure fazer". As sugestões de leituras, filmes e sites vem ao longo dos textos.

História nos Dias de Hoje de Flávio de Campos, Regina Claro e Miriam Dolhnikoff. Editora Leya.
Apesar dos autores do livro serem uma mestra (africanista) e doutores em história pela USP, o conteúdo do livro é muito decepcionante. O livro é altamente tradicional, seguindo o etapismo linear do progresso da civilização. O capítulo dedicado às civilizações africanas que não a egípcia são expulsos para o final do livro (capítulo 10). A imagem da capa é mal informada e trás corredores de alguma pintura grega. Esse ponto de partida é a origem que é o perpétuo ponto de chegada de olhares com o deste livro.
Não há unidades. A estrutura interna dos capítulos é tradicional, embora tente apresentar um tom moderno com sessões como "jogo aberto", "bate bola" e "olho no lance". De positivo, há o passo a passo inicial que trata da análise de documentos, imagens, mapas e técnicas de estudo.
São reforçados conceitos como pré-história e origens. 
Boas imagens, embora muitas vezes apenas ilustrativas. A diagramação é tradicional, mas com algumas liberdades. Bons exercícios, mesmo que tradicionais ao final dos capítulos. Boas indicações de sites, leituras e filmes também ao final.

Projeto Araribá de Maria Raquel Apolinário. Editora Moderna.
Capa trás a Catedral de Santa Sofia em Istambul, um símbolo de encontros culturais, mas remetendo também ao encerramento do conteúdo do livro. 
O livro tenta ter uma roupagem diferenciada, mas na verdade os temas em que se dividem são apenas capítulos. Não há verdadeira mudança metodológica no ordenamento do texto. A mesma estrutura linear e etapista se repete. Após os dois "temas" iniciais sobre conceitos: história, fontes históricas, verdade, tempo. Seguem-se as unidades sobre a origem do ser humano (novamente a ideia de pré-história), o povoamento da América, Mesopotâmia, Egito, Núbia, China, Índia, Fenícios, Hebreus, Persas, Gregos e Romanos. A primazia do político também é a única opção.
O livro apresenta imagens boas, uma diagramação tradicional, exercícios diretivos e repetitivos ao final. Sem indicações externas como leituras, filmes ou sites.

Estudar História - Das origens do homem à era digital de Patrícia Ramos Braick. Editora Moderna.
O maior problema desse livro começa pelo título, na minha opinião o pior de todos. Ele representa o eterno etapismo linear desde já. Ele se integra a uma imagem egípcia de uma dádiva, o que também diz muito.
Os capítulos seguem o modelo tradicional, sem divisão em unidades. Origens o tempo todo: o ser humano em busca de suas origens (capítulo 3), a origem das cidades (capítulo 4). A estrutura também privilegia o político como de costume.
.As imagens são boas. As questões surgem ao longo do texto. Boa diagramação, muito quadrinho. Exercícios diretivos e tradicionais. Sem extras.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Ensino e pesquisa ou Recanto de Memórias

Nas últimas semanas, depois de analisar com calma as biografia de avós dos meus estudantes do 6o ano, estou construindo com eles, em sala de aula, os textos sínteses que reúnem os dados e as narrativas de cada turma. O primeiro passo é apresentar para eles os dados, que divido em 8 categorias: sexo, origem, migração, época do nascimento, trabalho na infância, estudo, ocupação e opinião sobre o mundo de hoje. Há uma discussão sobre aquelas informações para fomentar a reflexão. É importante ressaltar para eles que essa é uma história produzida por eles: eles não estão ali só aprendendo, estão ensinando o que aprenderam com os familiares. Eles são convidados a refletir sobre uma informação que eles mesmos produziram e eu apenas recortei.
Através de um debate com cada turma, analisando as possibilidades de significados dos dados, vou construindo o texto no quadro. Durante a narrativa, eu vou inserindo citações deles mesmos, escolhidas por mim previamente na correção dos trabalhos. Elas tanto inserem o discurso dos crianças, essas memórias reverberadas de seus avós, quanto formam uma espécie de colcha de retalhos capaz de dar a ler micro e macro histórias. A produção do texto se transforma na possibilidade de pensar as vivências e memórias de seus antepassados, além das relações com as vivências e memórias dos educandos. Uma história muito mais familiar é construída na sala de aula.
Como em toda boa aula, isso leva à construção de um texto diferente para cada turma. As análises não só abarcam o esforço de pesquisa dos educandos como atingem a sensibilidade deles, pois mostra que aquelas histórias de vida, de pessoas simples e vividas, são capazes de dar conta da história deles mesmos, da história da localidade (no caso, o Recanto das Emas), de Brasília e mesmo do Brasil.
Umas das boas coisas que aprendi na minha formação como professor de história / historiador é que a história é um discurso, uma forma de atribuir sentido ao mundo. Permitir que os alunos percebam isso e construam seus próprios sentidos sobre o mundo, sobre suas famílias, suas localidades é um desafio. Se queremos isso deles, temos de escutar e orientar essa prática. Ninguém aprende com o erro dos outros, mas ninguém aprende tudo sozinho.
Vale lembrar que esse trabalho é a base da minha (pretensa) pesquisa da tese de doutorado. Ensinar pesquisando e pesquisando para aprender.. ensinar.. enfim, vocês entenderam.. ou não?
O resultado do esforço conjunto de todos nós segue abaixo:

6o ano A

Nas biografias dos avôs e das avós escritas pelos estudantes do 6o ano A do CEF 308 do Recanto das Emas, nós pudemos observar uma maioria de histórias de vida de mulheres. Isso pode ser explicado pelo maior contato com as avós, pois muitas vezes as mulheres passam mais tempo com a família. Para os filhos e netos é mais fácil conhecer as histórias de vida de suas mães e avós, já que os homens passam, em geral, mais tempo fora de casa, isso quando eles se envolvem com os filhos de alguma forma.
A grande maioria desses avós veio de estados do Nordeste como Piauí (6), Bahia (4), Maranhão (3) e Ceará (2), ou ainda, de áreas interioranas de estados próximo ao planalto central como Minas Gerais (3).  Como nos mostra a aluna Elayne, quando nos conta de sua avó: "Eu nasci em Serrolândia, Bahia, e me mudei de lá para Goiás, depois para o Recanto das Emas, porque perdi os meus pais". Assim sendo, nós percebemos que haviam muitas dificuldades nessas regiões, onde haviam poucas oportunidades de trabalho e estudo.
Essa migração dos nordestinos começou muito antes da construção de Brasília e continua até os dias de hoje. A maioria das biografias nos mostram que esses avós (12) mudaram de suas terras natais em busca de uma vida mais justa. De acordo com a estudante Katherine: "Também pensando no futuro de suas filhas, resolveu mudar-se para Brasília, pois ela encontrou melhores condições de vida. Já a aluna Gislane acrescenta que: "Minha avó nasceu no Ceará. Ela mudou de lá, porque lá não tinha emprego". Essas mudanças, muitas vezes, eram feitas por toda a família, como no caso da avó de Guilherme Vitor: : "Ela nasceu em Minas Gerais, mudou de lá porque todos os irmãos dela vieram para cá". Mesmo assim, alguns desses avós (7) vivem até hoje na mesma localidade, como nos mostra a estudante Michele: "A minha avó nasceu em Redenção, Piauí, se criou lá e não mudou de cidade". Assim, nós percebemos que os caminhos da vida dos nossos antepassados também é um pouco do nosso caminho.
Na época em que muitos desses avós nasceram, a vida tinha várias dificuldades. Muitos desses avôs e avós (10) nasceram na década de 50, o que nos mostra que ainda eram crianças na época da construção de Brasília. Desse modo, entendemos que a maior parte deles acompanhou os pais e a família na busca por melhores condições de vida no centro-sul. Segundo a estudante Thatyane, por exemplo: "Minha avó nasceu em 1955 no hospital, a vida antigamente era difícil".
Essa vida difícil podia ser percebida na necessidade deles trabalharem desde a infância para ajudarem seus familiares. A grande maioria (14) teve de trabalhar durante a infância para garantir o sustento da casa, como nos conta a aluna Jully: "A infância do meu avô era difícil, porque ele e as outras crianças tinham que trabalhar na roça ajudando seus pais". Ser criança naquela época era já ter que lidar com as responsabilidades de um adulto.
Além de terem de trabalhar, esses avôs e avós tinham dificuldades para frequentar a escola. Mesmo que 15 dos avós tenham dito que frequentaram a escola, apenas 2 deles disseram que concluíram o estudo. A maior parte fez as séries iniciais para aprender o básico como ler e escrever, as contas de somar e subtrair, antes de abandonar os estudos. Segundo a estudante Nicolly: "Naquela época era muito difícil ir à escola, mas o pouco que eu consegui foi estudar até a 3a série". A mesma ideia aparece no depoimento colhido pela aluna Gabriela: "Estudei até a 4a série, eu frequentei a escola em busca de um futuro melhor, mas isto não foi possível". A estudante Isadora acrescenta ainda sobre sua avó: "Frequentou a escola com 6 anos e parou de estudar com 10 anos. Ela estudou porque a mãe dela aconselhou a estudar para o desenvolvimento". Sendo assim, temos de acrescentar os 4 avós que sequer puderam iniciar os estudos, como cita a aluna Jenniffem: " Minha avó não foi à escola, porque os pais dela não tinham condição". Vemos que era outra a importância e a possibilidades de estudo naquela época.
Com pouco estudo ou nenhum estudo, muitos desses avós tiveram poucas opções de trabalho na vida adulta. A maior parte deles (9) continuou envolvida com a agricultura, serviço que já praticavam desde a infância ajudando suas famílias. Outra parte significativa desses avós (5) trabalhou  com serviços domésticos em casa de família. Segundo o estudante Maikon, por exemplo: " Era trabalhador rural, plantava arroz, açúcar e mandioca. Colhia e depois vendia". A mesma ideia é apresentada pela estudante Maria Eduarda: "Trabalhou na roça, no engenho, fazendo farinha, plantando mandioca, feijão, cana". Além do trabalho agrícola, qualquer serviço apresentava muita dificuldade, como nos mostra a estudante Thatyane: "Ajudou seu pai a vender coisas, ganharam dinheiro, mas não foi o suficiente para pagar as contas e botar o de comer na mesa". Assim sendo, aprenderam a sobreviver com o que tinham e a encontrar a beleza onde podiam, como nos narra o aluno Guilherme Ítalo sobre seu avô: "Trabalhou de ajudante nas construções, gostou de ver como ficavam as construções".
Com essas vidas tão cheias de acontecimentos, que podemos usar para construir um conhecimento sobre o passado e suas vivências, os avôs e avós ficaram divididos entre os que consideram que o mundo é melhor nos dias de hoje (6) e os que preferiam o mundo antigamente (7). Alguns, como a avó da estudante Giselle, defendem que o tempo passado era melhor: "Antigamente ela achava melhor, porque não existia violência em lugar algum". Outros, como o avô da estudante Jully, preferem o tempo atual: "Meu avô disse que hoje é melhor que no tempo dele, porque as coisas evoluíram". Portanto, podemos perceber que as ideias de menor violência, de maior contato entre as pessoas e da força da juventude são critérios de quem defende o tempo passado. Enquanto que a tecnologia e modernidade estão nos relatos dos que preferem a atualidade.
Para concluir, podemos ver que as histórias de vida desses homens e mulheres, pesquisadas e escritas por seus netos e netas, são capazes de desenvolver o conhecimento não só sobre as famílias, mas também sobre a cidade Recanto das Emas, a capital Brasília e até mesmo sobre a história do Brasil. Existem aqui exemplos, análises e pensamentos que servem para todos nós conhecermos nossa própria história, construirmos essa história como construímos esse texto.