terça-feira, 26 de março de 2013

O som do universo (Acercadacana de Felipe Calheiros)


Salve salve pessoas.. mais práticas, mais dias e assim a vida se faz. Essa semana é curta, porque tem feriado da Semana Santa na 5a e 6a.
As últimas aulas foram deveras produtivas. Com as turmas de 6o ano, apresentei três interessantes vídeos sobre o universo. O tema agora é tempo. Acima de tudo, o olhar humano para o tempo. Começo, portanto, em concordância com o livro, tratando dos ciclos da natureza que foram percebidos pelos seres humanos. Dia e noite, as fases da lua e as estações do ano são processos vivos para os estudantes e torna o diálogo bem interessante. Eles tem uma curiosidade de saber como essas coisas funcionam e acontecem. O assunto é tratado em diversas disciplinas e a perspectiva dos historiadores realça como o tempo nos governa e nos navega.

http://www.youtube.com/watch?v=gqEDrTurDns


Os três vídeos servem para tirar os pés deles do chão. Eu tive essa ideia no ano passado, quando precisei repor as aulas da greve aos sábados, o que implicou em 3 aulas seguidas para levar só duas turmas por sábado. Daí montei um grande aulão do universo.
Porém, no ano passado, eu os apresentei ao fim das explicações, como a culminância do processo. Dessa vez, eu optei para trazê-los logo de cara e só então colher os cacos para explicar. Estou na experimentação do processo.
Com as turmas de 8o ano, após o filme Narradores de Javé, foi a vez de trabalhar com eles o documentário Acercadacana de Felipe Peres Calheiros, que já está articulado com os eixos temáticos Terra e Propriedade. O filme tem 19 minutos e apresenta a luta da senhora Maria Francisca, posseira de um sítio no Engenho Tiúma em São Lourenço da Mata, Zona da Mata de Pernambuco. Ao contrário de milhares de outros posseiros, que foram expulsos ou coagidos, a lavradora resiste no local que é sua moradia há mais de 40 anos. Ela denuncia a violência e os desmandos dos donos do engenho, o grupo Petribu, que prefere tomar as terras para o cultivo da cana. A cena final dos paredões de fogo do canavial em chamas que envolve o sítio é marcante.
Para a discussão, somo ao filme, duas músicas: Asa Branca de Luiz Gonzaga e Banditismo Por Uma Questão de Classe de Chico Science e Nação Zumbi. O resultado foi muito proveitoso, despertando o interesse dos educandos. Asa Branca é uma música muito familiar para eles, levando uma das turmas a cantar junto com a música, além de ser um hino dos sertanejos. Banditismo é uma música com pegada rock'n roll, mas com o melhor do manguebeat, mostrando outra ótica pra formação da delinquência: "banditismo por necessidade".
São três óticas dos conflitos pela terra e a propriedade. Vamos ver o que sai também...


sexta-feira, 22 de março de 2013

Narradores de Javé de Eliane Caffé


Salve salve pessoas...
Hoje, finalmente, pude dar início ao projeto História e Cinema lá na escola. A sala de vídeo ainda não está completamente recuperada, mas a televisão foi trocada por uma maior e algumas das adaptações necessárias já estão prontas. O primeiro filme que pude apresentar aos estudantes foi Narradores de Javé, um filme de 2003 da diretora Eliane Caffé.
O filme narra a "odisseia" da população da pequena vila de Javé que será engolida pelas águas de uma barragem. Na esperança de salvá-la do avanço das águas, a população resolve relatar a história das origens da comunidade para constituir um documento capaz de embasar a defesa desse patrimônio cultural.
Tudo isso, nós sabemos através de Zaqueu, personagem de Nélson Xavier, que está narrando o acontecido a outras pessoas em um bar.
Incapaz de documentar a própria história, a população se vê obrigada a repatriar um antigo pária, um poeta lançado ao ostracismo por ter denegrido no passado todo o povo da comunidade javense, Antônio Biá, vivido magistralmente por José Dumont. Antônio Biá recebe a incumbência de ouvir a todos e produzir a narrativa final capaz de salvar Javé e ele mesmo.
Demora pouco para que o Homero nordestino, no entanto, esbarre nas histórias construídas por cada um. Cada qual dos habitantes tem seus próprios interesses a apresentar, desejando sempre "puxar a sardinha pro seu lado", como se diz por aí. Todos tem alguma história, alguma prova ou desejo de possuir um ou outro. O próprio Biá faz daquela história o palco de sua prosa debochada e inquieta, perturbando a todos ao mesmo tempo que relembrando-os da necessidade que tinham dele. Como já fizera antes e anuncia, ele mostra que há fogo, onde todos viam apenas fumaça.
Várias das falas de Antônio Biá e seus vizinhos podem ser exploradas em sala de aula, tais como:
-"Uma coisa é o fato acontecido, outra coisa é o fato escrito. O acontecido tem que ser melhorado no escrito de forma melhor para que o povo creia no acontecido".
- "Gente, escritura é assim: um homem curvo vira carcunda; gente do olho torto, eu digo que é zaroio; por exemplo, se o sujeito é manco assim, então, na história, eu digo que ele não tem uma perna. É assim, é das regras da escritura".
- "Se a senhora não quiser, eu não dou grafias na sua odisseia ou escrevo o que me der na cachola sem ponto e vírgula"!
Tudo isso, somado às narrativas mais que pessoais da comunidade, nos permitem ver os inúmeros conflitos daquela gente e o reflexo em suas histórias sempre atuais do passado. Haveria alguma verdade além das versões? O filme escancara a dimensão narrativa da história, um problema batido para os acadêmicos, mas muito negligenciado em sala de aula. A epopeia formadora das nações e Estados modernos é tida com única e inevitável forma de se estudar história. Eu deixei de crer no lindo progresso da civilização ocidental muito antes de aprender que o progresso foi uma ideia construída "positivistamente" no século XIX.
Além de denunciar ilusões historiográficas, o filme serve para dar voz a uma cultura popular muito mais próxima de nós do que se costuma aceitar. As duas turmas de 8o ano que assistiram ao filme hoje adoraram, se esborracharam de rir e reconheceram muitas de suas vivências ou de seus familiares nas cenas do Brasil que passavam na tela.
Obviamente, o filme que possui cerca de 100 minutos tomaria duas aulas para ser passado completamente. Eu prefiro fazer um recorte que vai do momento que Antônio Biá apresenta o livro onde escreverá a história (minuto 18) até o fim da narrativa de Firmino, o ator Gero Camilo, na casa de Deodora, a atriz Luci Pereira (minuto 45). Isso permite aos educandos assistirem três narrativas: a do senhor Vicentino, o ator Nélson Dantas, (engrandecendo Indalécio); a da senhora Deodora (engrandecendo Mariardina); e a do próprio Firmino (se colocando no papel de Indalécio, ao mesmo tempo que denigre o próprio e Mariardina). Também dá tempo para o deslocamento para a sala de vídeo e a discussão sobre o que foi assistido sem correria.
A provocação começa com qual é a verdadeira história? Existe uma história verdadeira?.. e por aí vai...
Na semana que vem, no turno contrário, passarei o filme completo para os estudantes que se interessarem.

http://planodeaulasdehistoria.blogspot.com.br/2014/02/narradores-de-jave-de-eliane-caffe.html

quarta-feira, 13 de março de 2013

Projeto Político Pedagógico


A maioria das pessoas que eu conheci até hoje tem horror a essas três palavrinhas. Acho que só perdem pra "fazer uma dinâmica". A palavra política costuma pagar o preço de um de seus sentidos. Isso prejudica a percepção da microfísica do poder. Todas as escolas precisam de um, a maioria apresenta algum, mas poucas realmente tem isso. Mas todo professor ao longo da vida, quer queira ou não, constrói um projeto político pedagógico.. como vai o seu?
Hoje, a regional de ensino convocou os professores para uma discussão dos ciclos. Mais uma vez, um mar de resistência contra a determinação de uma vontade. Parece com muita sala de aula que eu conheço. Fato é que os ciclos vem aí e como eu já comentei sobre isso em outro dia, vou ir além nesta postagem. A questão agora é: devemos lamentar ou fazer disso uma oportunidade?
Que a seriação tá falida, todos sabem, embora muita gente abrace e chore pelo defunto. No entanto, não deve ser apagada, pelo contrário, muito melhor se relida, pois nada se cria, nada se destrói, tudo se transforma, já diria Lavoisier. Em uma escola como a minha, dos anos finais do ensino fundamental (6o ao 9o ano), não é o caso de reter estudante de 16 e até 17 anos nas primeiras etapas do processo. A idade é um fator fundamental no desenvolvimento físico e mental desses adolescentes. Muitas vezes a retenção excessiva apenas transforma as dificuldades iniciais em uma bola de neve.
Talvez seja o caso de encaminhá-lo por uma trajetória mais de acordo com seus interesses e suas vontades. Isso também elimina procedimentos arriscados como os programas de aceleração. O ideal é que cada caso fosse um caso. Mas já que não é possível, dá pra agrupar algumas questões. Questões como desenvolvimento cognitivo, disciplina, interesse, sociabilidade, questões familiares tem que ser levados em consideração na montagem das turmas a cada ano.
Para garantir a qualidade do processo, não é ao estudante que sobrará a responsabilidade de fazer as atividades. Para tanto, é preciso um trabalho articulado dos professores. Não falo apenas na famosa interdisciplinariedade.. falo de coleguismo, conhecer o trabalho de quem trabalha com você. Não é preciso intervenção, mas confiança e conhecimento daquilo que se dá ao lado, para que não passe ao largo, pois logo pontes irão surgir.
Eu posso citar o exemplo das professoras da minha escola com quem já trabalho há 4 anos e em cujas práticas eu confio imensamente. Pelos anos de trabalho, conheço um tanto dos projetos políticos pedagógicos que elas praticam todo dia e tento me solidarizar com eles em tudo que posso. Confio nos julgamentos e muitas vezes recorro a elas para perceber melhor algum educando. "Nunca se vence uma guerra lutando sozinho" já dizia Raul Seixas.
Mais do que palavras no papel, um Projeto Político Pedagógico é um conjunto de práticas. É o resultado do diálogo e da vontade de sair do sempre mais do mesmo. Mudar não por não estar dando certo, mas porque mudar é preciso (e na minha opinião não deu certo antes).

"Sonho que se sonha só
É só um sonho que se sonha só
Mas sonho que se sonha junto
É realidade"

Bertold Brecht

terça-feira, 5 de março de 2013

5a Olimpíada Nacional em História do Brasil


Hoje foi lançada a 5a edição da Olimpíada Nacional de História da Unicamp. Esse ano eu vou me inscrever pela primeira vez e estou bem animado com isso. Estou desde o começo do ano letivo em contato com minhas equipes. São 9 equipes de 3 estudantes cada.
Estou participando pela primeira vez por um motivo simples. Ano passado, foi a primeira vez que lecionei para o 8o ano e todos os participantes interessados tiveram aulas comigo. Foi quando comecei a plantar a semente. Esse ano todos estão no 9o ano e foram convidados por mim a participar, mesmo que eu não esteja em sala com eles. O convite foi feito a vários, mas esses 27 foram os que aceitaram. Elegi uma representante pra me ajudar com o andamento dos encontros e marquei um encontro semanal nessa fase de inicial de preparação. Dos 15 educandos, 14 também foram meus alunos no 6o ano em 2010, ano em que cheguei à escola CEF 308 do Recanto das Emas. Confio muito na inteligência e no interesse deles, tenho certeza que estamos entrando pra ganhar e aprender bastante. As primeiras vezes são sempre marcantes.. vamos ver o que vem...

http://www.museudeciencias.com.br/4-olimpiada/inicio/index



sexta-feira, 1 de março de 2013

Pesquisa do doutorado...

Esse é o primeiro artigo que eu público. É uma análise do trabalho que realizado com os estudantes de 6o ano da escola CEF 308 do Recanto das Emas.
Segue abaixo o link: http://seer.bce.unb.br/index.php/emtempos/issue/view/804/showToc