quinta-feira, 20 de junho de 2013

A Guerra do Fogo


Salve pessoas.. hoje comecei a passar o filme A Guerra do Fogo de Jean-Jacques Annaud. Pra começar, esse filme (na minha modesta opinião) é uma obra-prima, um dos 10 melhores de todos os tempos. Ele chega como a culminância da discussão da evolução do ser humano, dos ancestrais do homem moderno e da idade das cavernas (me recuso a chamar de pré-história, pois nada é antes da história). Para quem não conhece, o filme fala sobre as aventuras de três neandertais em busca de fogo após sua tribo ser atacada.
A sensibilidade do diretor e a expressividade dos atores é capaz de fazer os alunos refletirem sobre esse mundo alienígena que é o paleolítico. É o melhor recurso áudio-visual que já utilizei. Diversas cenas merecem destaque:
- A cena inicial em que o mais brutamonte do trio de "caçadores do fogo" aparece guardando a entrada da caverna ao lado de uma grande fogueira, enquanto a tribo dorme. O guardião pega uma lenha em chamas e atira contra um grupo de lobos que rondam a caverna. Os animais fogem espantados e ganindo, mostrando aí uma importante diferença dos hominídeos como dominadores do fogo. Isso possibilitou sobreviver a predadores e manter mais segurança.
- A cena após o ataque, quando reunidos e desolados, os sobreviventes da tribo vêem-se em um pântano frio e sombrio, ilhados do mundo. Lobos espreitam ao redor e estão feridos e assustados. Ao verem o portador do fogo surgir, suas esperanças se renovam, mas ao tentar alcançar os outros, o fogo se apaga. Um esforço coletivo é feito para salvar o fogo. Assistimos ao líder do trio de caçadores do fogo até o último sopro tentar, em vão, salvar uma última brasa. O fogo como a força vital daquele grupo.
- A cena em que o trio fica cercado por um par de dentes-de-sabre em uma árvore é interessante pelo lado cômico e da alimentação.
- A cena em que os três caçadores encontram os restos de uma fogueira é sublime. Tomados pelo estase, os neandertais rolam nas cinzas como que possuídos pela felicidade. O fogo está próximo. É como um deus da vida e da esperança para eles. Enquanto rolam, encontram restos de carne e passam a se alimentar. O horror os invade quando descobrem através de um crânio serem restos humanos. A ideia do canibalismo como um limite à ideia de humanidade salta aos olhos. Aquilo que parecia a salvação, agora pode ser a destruição.
- A cena em que o trio já reunido com a mulher homo sapiens sapiens acende a primeira fogueira também é maravilhosa. Vale aqui destacar a figura da mulher, que além de trazer os conflitos de gênero para a trama, representa o contraste entre sapiens sapiens e neandertais. Ela sabe produzir remédios para curar feridas, ela possui um idioma complexo, ela pinta o próprio corpo, todas coisas estranhas para os neandertais. Estes que até esse momento do filme eram os "mais evoluídos" são postos agora como "menos evoluídos". O ápice desse desenvolvimento se dá com a chegada deles à tribo dos homo sapiens sapiens. Voltando à cena da fogueira, a dança dos três ao redor do fogo é magnífica, expressando a grandiosidade daquele momento pelo qual esperaram e lutaram.
Quando desperta, o grupo percebe que está cercado pelos hominídeos de quem roubaram o fogo. O surgimento de uma manada de mamutes paralisa as ações. O líder dos neandertais decide tentar aproximar-se dos animais, mesmo com medo, pois percebe o medo maior dos inimigos. Oferecendo capim, ele consegue aproximar-se dos mamutes e passar por eles sem problemas. Seus amigos fazem o mesmo, mas quando os numerosos inimigos avançam, os mamutes investem em carga temendo um ataque. Não só a inteligência vence a força, mas a domesticação dos animais surge como uma questão a ser tratada.
- A cena mais impactante e importante do filme é a cena em que a mulher sapiens sapiens faz o fogo diante do líder dos neandertais. Essa cena é de uma perfeição capaz de capturar o imaginário dos estudantes de 10 a 11 anos. Cada passo meticuloso do processo vai sendo acompanhado pela aflição do neandertal, que só entende a razão daquilo quando o movimento das madeiras gera a brasa. Era como se aquela mulher fosse capaz de criar o deus que ele só encontrava na natureza. Ele nunca havia visto o fogo ser feito do nada. 
Esse momento se repete quando eles retornam à tribo e mostram o processo de fazer fogo aos outros neandertais.
- Outra questão sensacional é a do riso. Numa cena inicial, quando a mulher se integra ao grupo. Uma pedra cai sobre a cabeça de um deles, o que arranca dela imensas gargalhadas, enquanto os três ficam perplexos sem entender. Mais à frente, quando eles deixam para trás a tribo dos sapiens sapiens, o mais forte (que não é o líder) deles deixa cair uma pedra sobre a cabeça do companheiro mais fraco. Ainda que isso rache a cabeça do coitado, todos se esborracham de rir. A expressão da alegria e mais uma vez a dimensão da aprendizagem como parte das experiências humanas. 
- Uma das questões mais bem trabalhadas do filme e mais delicadas é a da sexualidade. Quando a mulher entra para o grupo, o mais forte tenta tomá-la, mas ela busca refúgio no líder, que para "salvá-la" do companheiro, tem que ele violentá-la, fazendo dela sua companheira. As cenas de sexo são fortes e eu prefiro saltá-las nas turmas de 6o ano, pois acaba eclipsando o restante. Várias discussões surgem da relação entre os dois: a fuga dela, o modo como ela o ensina a fazer amor ao invés do sexo animalesco, a preferência dela por seguir com ele, quando os companheiros vem resgatá-lo da tribo de sapiens sapiens.
É belíssima a cena (que termina com a do riso) em que ela está pintando o próprio corpo com carvão e ele a ajuda se pintar, como se mostrasse que ele não teria de deixar sua cultura, sua identidade para seguir com ele.
- A cena final em que o casal neandertal e sapiens sapiens observam a lua, enquanto ele acaricia a barriga dela, que está grávida, mostra outra questão ensejada no filme. Apesar de ser de 1981, ao contrário das teorias mais fortes da época, o diretor apresenta a ideia de cruzamento entre neandertais e sapiens sapiens. Nos dias de hoje, os estudos usando a genética dão conta que parte do dna do homem moderno vem dos neandertais. Evoluir nem sempre é competir.
Espero que isso possa ajudar os interessados em passar o filme. Ele é muito comentado, ilustra muito livro didático por aí, mas poucos trazem-no para o espaço de experiência dos educando. Mais do que aprender a linha evolutiva do homem, podemos imaginar as possibilidades do ser humano.


sexta-feira, 7 de junho de 2013

Livros didáticos de história - Ensino Fundamental (6o ano)


Salve salve pessoas, mais uma vez chegou a hora de escolher os livros didáticos para o próximo triênio pelo Programa Nacional do Livro Didático. Numa análise preliminar dos títulos que recebi, vi uma melhora gráfica significativa, mas muito mais do mesmo na parte conceitual, metodológica e conteudística. Verdade que tive algumas boas surpresas como a coleção link e uma certa ruptura no saber e fazer história. No geral, prevalece muito mais do mesmo. Acho que para quem gosta de um trabalho diferenciado, o História Temática da editora Scipione da Conceição Cabrini e outros ainda é o melhor. Ainda não recebi o novo, mas creio que não deva demorar. Conforme novos livros forem chegando, vou incorporando ao começo da postagem.

Projeto Velear: História de Andrea Montellato, Conceição Cabrini e Roberto Catelli. Editora Scipione.
Este livro é a nova versão da antiga coleção História Temática, que eu utilizei até ano passado. Esta sendo a última coleção analisada por mim, porque a editora repetidamente falhou em me encaminhar uma para ser analisada. Insisti nela após analisar todas as outras e hoje peguei na escola meus livros do professor. Minha primeira impressão não foi boa, pois a capa mudou. Anteriormente, eram usadas imagens de peças de artes representativas dos temas a serem abordados no livro. No caso do 6o ano, tratava-se do close do rosto de uma estátua egípcia, uma vez que os eixos-temáticos são tempo e culturas. A atual edição trás a imagem de uma construção e um vaso, ambos gregos, encobertos por uma enorme hexógono amarelo sob o qual há um relógio, que forma uma espiral de tempo. Nenhuma das imagens é identificada no interior do livro.
Após a apresentação dos autores, todos formados em história, há a apresentação do livro, com um pequeno texto sobre uma primeira aula de história. Também vi um perda aqui, pois o texto anteriormente utilizado aludia ao ambiente familiar e às experiências prévias dos educandos, além de ter um caráter mais lúdico. O texto atual trata da análise de uma imagem de uma urna funerário, onde os estudantes são instigados a perguntar. Já são apresentadas ideias como a história relativa ao presente, seu caráter comparativo, a análise das fontes.
Com o novo formato da coleção, os eixos temáticos embora continuem, possuem menor visibilidade, uma vez que antes vinha logo após o nome da coleção em cada livro e agora apenas são mencionados no manual do professor. Apesar disso, os eixos Tempo e Culturas foi mantido, assim como as quatro unidades: História e Memória, Tempo Medido e Tempo Vivido, Sociedades e Culturas, Cidades. A primeira unidade é dividida em dois capítulos, onde se discute o conceito de história através de sua relação com as vivências, a relação entre história e a memória e história e diversidade. Na segunda unidade, temos três capítulos sobre tempo e as temporalidades. A unidade três explora a importância da arqueologia, a questão evolutiva e a formação dos seres humanos, assim como o povoamento da América e seus habitantes. A última unidade divide-se em três capítulos onde a cidade enquanto fenômeno humano é analisada. Muito embora, valorize-se uma noção de origem, há uma valorização da diversidade humana na construção das cidades. A diversidade cultural humana se mostra em cidades mesopotâmicas, egípcias e gregas.
Infelizmente, apesar do livro ter sofrido uma repaginada visual, com novas imagens, textos e atividades, conceitos como "pré-história" e "origem" ainda balizam o tratamento dos temas. Basicamente, continua a mesma coleção, mas mais atualizada e dinâmica. Ainda assim, entendo que houveram perdas em alguns sentidos. Mesmo assim, continua sendo o melhor livro para 6o ano na minha opinião.

Por Dentro da História de Pedro Santiago, Célia Cerqueira e Maria Aparecida Pontes. Editora Escala Educacional.
A capa do livro trás a imagem de uma estátua de mulher em estilo grego e um vaso da mesma cultura sobre o fundo formado por pinturas rupestres, deixando claro o recorte temporal da obra: do paleolítico à origem da civilização ocidental representada pela Grécia Antiga. Toda a coleção trás a imagem de mulheres, o que sugere o interesse por outros sujeitos históricos. Embora a proposta da coleção pretenda fugir do viés mais tradicional, acaba por recorrentemente reafirmá-lo, ainda que com um discurso mais atual. A equipe de autores é encabeçada por um mestre em história, uma bibliotecária e uma pedagoga. No entanto, não senti reflexos didáticos ou bibliográficos que contem à favor dessa diversidade.
O livro é dividido em unidades e estas em capítulo com um recorte cronológico e espacial. Como sempre, há uma introdução (sequer um capítulo) para tratar dos conceitos históricos como cultura e tempo. A prática do historiador é comparada ao do detetive. A primeira unidade com dois capítulos trata da origem dos seres humanos. Embora a abordagem siga o modelo de explicação evolucionista costumeiro, é crítico e evita o uso de termos problemáticos como pré-história. Na unidade 2, o rotineiro etapismo das civilizações é precedido de um capítulo sobre a diversidade cultural e os processos centrais que serão analisados nos capítulos posteriores. Seguem-se capítulos sobre Mesopotâmia, Egito, hebreus, fenícios, persas para a eterna culminância de Grécia e Roma.
Durante os capítulos, existem exercícios diretivos ao final, bom material extra com textos e mitos. As imagens são bem escolhidas e os inícios das unidades são bem aproveitados. São colocadas questões atuais para a reflexão e o próprio saber científico é apresentado como algo político e construído. Existe um grande número de sites, bibliografia e filmes sugeridos na seção conecte-se. Dentro das coleções tradicionais, me parece uma boa opção.

Leituras da História de Oldimar Cardoso. Editora Escala Educacional.
A capa do livro trás uma sequência de pequenas imagens (pinturas rupestres, uma pintura egípcia de embalsamamento, um sábio chinês, soldados do palácio de Dario da Pérsia, uma batalha naval antiga e uma cena cristã em estilo medieval), sobre o pano de fundo do Coliseu atual, simplesmente resumindo os conteúdos do livro, bem como realçado seu viés cronológico, etapista de civilização. O autor é pós-doutor em didática da história, doutor em educação, mas isso não se reflete no tratamento do conteúdo, que é exaustivo. O livro possui 23 capítulos se estendendo até o fim da Idade Média. Há uma pretensão de esgotar todo o processo de formação da civilização ocidental, "nossas origens", bem como dar conta dos acréscimos de China e Índia. A atenção para a África subsaariana e para os povos ameríndios não é a mesma. Além disso, não há tempo e espaço para tratar de conceitos históricos, apenas mais e mais conteúdo pronto com conceitos não discutidos e explorados .
Embora o livro tenha uma linguagem atraente, reafirma todo tempo valores tradicionais, conceitos problemáticos. A cronologia é sempre valorizada. Os textos são dinâmicos e recheados de links laterais bem integrados às imagens. Estas são sempre ilustrativas. A diagramação é tradicional e a qualidade gráfica é mediana. Os exercícios são diretivos e em pouca quantidade. Também existe pouca indicação de filmes e sites. Um livro grande, pesado e deslocado das necessidades atuais na minha opinião.

Coleção Link - História de Denise Mattos Marino e Léo Stampacchio. Editora IBEP.
Esse livro de aparência despretensiosa foi uma surpresa muito boa. A capa parece querer passar a ideia de modernidade e conectividade com círculos interligados. O livro é relativamente fino para o padrão sem que isso prejudique o conteúdo.
É um dos raros livros de história temáticos. O interior trás uma verdadeira ruptura com os conteúdos tradicionais de ensino da história. O livro é dividido em 4 unidades temáticas bem definidas e descritas. Estas não se dividem em capítulos, embora a estrutura da diagramação seja próxima disso para apresentar os tópicos.
No principio é um tanto desconcertante, mas os textos conseguem manter o andamento das incursões por diferentes períodos históricos para abordar cada tema. Ao contrário do que se pensa, a linearidade não é abolida ou combatida, mas deixa de ser a única opção.
A primeira unidade é dedicada à "expansão do ser humano pelo planeta e relações de propriedade da terra". O texto se inicia tratando do espaço e da corrida espacial, enquanto que as atividades e propostas de discussão vão surgindo ao longo do texto. Uso da imaginação e o surgimento do ser humano. Egito, Mesopotâmia, Brasil colônia. Textos paralelos, mas diagramação tradicional. As sugestões de leituras complementares e filmografia são excelentes. Faltam atividades interpretativas.
A unidade 2 trata das relações entre o ser humano, a natureza e a sociedade através do trabalho. Revolução agrícola, divisão do trabalho, revolução urbana, trabalho e tempo (desenvolvimento do conceito). Conceitos como história e tempo vão sendo aprofundados ao longo do caminho, não ficando restritos a um ou dois capítulos iniciais.
A unidade 3 trás a questão da tecnologia e a 4 trata do desenvolvimento da linguagem. Em ambas continua a proposta de desenvolver o tema através de incursões por variados períodos históricos.
Existem alguns erros de português que evidenciam um descuido no rigor da produção gráfica do livro, mas certamente foi a obre diferenciada que pude analisar.

Coleção Para Viver Juntos de Débora Yumi Motooka e Muryatan Santana Barbosa. Editora SM.
A capa trás a imagem de vasos marajoaras, o que pode sugerir uma maior atenção aos povos ameríndios, muito embora isso não se constate no interior da obra. O caráter enciclopédico prevalece nos 9 capítulos divididos em módulos, que de maneira exaustiva tenta dar conta de um conteúdo que se estende até a Contrareforma.
A introdução serve para apresentar os conceitos históricos: memória, tempo. Segue-se o primeiro capítulo, com a noção de origem da humanidade. Fica muito nítido o viés de pré-vestibular do livro, que trás os conteúdos de maneira excessivamente resumida, quase que pontual, além de trazer atividades diretivas a cada módulo. Existem indicações dos tópicos principais no início dos capítulos e também nas sínteses ao final dos capítulos.
Existem algumas boas imagens, mas não são maioria. A diagramação também é tradicional. As atividades são muito diretivas, pouco reflexivas e deixam a desejar. Há pouca indicação de leituras, sites e filmes.

Vontade de Saber - História de Marco Pellegrini, Adriana Dias e Keila Grinberg. Editora FTD.
Capa brega com crianças contemplando figuras como a Vênus de Milo, Gandi, um guerreiro de terracota chinês e uma estátua iorubá. O título é tão ruim quanto.
Apresenta estrutura tradicional dos conteúdos. No primeiro capítulo, trás conceitos históricos como história, fontes, sujeitos, tempo. A seguir, passa pela origem do ser humano e a sequência das civilizações segundo o etapismo linear. Mesopotâmia e o desenvolvimento urbano. A estrutura da apresentação também segue o modelo que privilegia o recorte político. Na sequência, temos economia, sociedade, cultura (religião). África antiga: egípcios e cuxitas. Egito para agricultura. Cuxitas na lógica tradicional (exemplaridade) e atendendo as exigências da lei 10.639. Os fenícios são apresentados por sua contribuição para o comércio e os hebreus no aspecto religioso com o monoteísmo. Já os persas surgem pela organização de um império. A China é apresentada pelo resumo linear de sua história político-militar. 
Na culminância, temos os gregos, através do clássico dualismo Atenas e Esparta. Ela vem como berço da civilização ocidental, que vai se desenvolver com Roma. Os romanos são tratados através de sua história político-militar.  Um capítulo para a cultura clássica para fechar: legado para o ocidente.
Figuras maravilhosas. Atividades tradicionais ao final. Diagramação de qualidade, mas tradicional.

Projeto Teláris - História: Da Pré-História à Antiguidade de Gislane Azevedo e Reinaldo Seriacopi. Editora Ática.
O problema já começa no título: etapismo linear, sequenciamento tradicional de acordo com o quadripartismo europeu, problemas na categoria pre-história, pois tudo é história e documentos escritos não são mais importantes do que outros tipos de documentos históricos.
Símbolos de hieroglifos na capa marcando as civilizações que são o foco principal do livro, no caso, a egípcia. Um dos autores é formado em língua portuguesa e outro mestre em história. O teláris do título do projeto significa tecelão, o que pode remeter a uma rede e interdisciplinariedade, mas não é o que se observa na obra.
Há uma divisão em 4 unidades temáticas (tecnologia, civilizações, diversidade, política) sem romper com a tradicional representação de um progresso civilizatório cujas etapas são completadas a cada um dos povos.
A sequência dos capítulos também segue o roteiro costumeiro dos livros didáticos de história: apresentação de conceitos básicos como história, tempo e fontes no primeiro capítulo; surgimento do ser humano, revolução agrícola e desenvolvimento urbano no segundo capítulo (destaque para a busca pelas origens); povoamento da América e as migrações dos grupos humanos. Esses dois últimos normalmente servem para quebrar o galho quanto ao dever de falar de povos indígenas e africanos cobrados pelas leis brasileiras.
A partir do capítulo 4 seguem-se as civilizações mesopotâmicas (Estado), os egípcios (agricultura), os hebreus (religião), os persas (organização de um império) e os fenícios (comércio e alfabeto fonético). Os capítulos 7, 8 e 9 trazem a diversidade exigida por um público globalizado com China, Índia e civilizações africanas.
A unidade de política segue a lógica clássica e trás "o berço do Ocidente": Grécia e Roma, terminando com a desagregação do Império Romano e as migrações dos povos germânicos.
As imagens são boas e bem grandes, embora a diagramação seja comum. Possui boas atividades, links e extras interessantes. Existem interessantes textos complementares e fechamento de unidade com análises de documentos.

Encontros com a História de Vanise Ribeiro e Carla Anastasia. Editora Positivo.
Capa com estudantes usando tecnologias em frente a monumentos. O livro tem uma diagramação moderna, mas seu conteúdo é bem tradicional. É dividido em 4 unidades na sequência etapista linear, reforçando conceitos enganosos como pré-história e origem. Apesar das unidades serem divididas em "temas", aqui essa palavra serve como sinônimo para capítulos, pois se há um tema aqui é a o progresso da civilização humana. O primeiro capítulo trata dos conceitos básicos como de costume: historiador como detetive, fonte como testemunho, patrimônio e tempo. Exercícios comuns, diretivos e tradicionais ao final dos "temas".
No capítulo 2 trata-se da origem humana. Há constante reforço das noções de origem e de pré-história, mesmo que entre aspas. Já o tema 3 começa a história política da sequência de civilizações que vai da Mesopotâmia como berço das civilizações. Os temas seguintes são os reinos africanos. o tema 5, Índia e China. Ao final, é a vez de temas sobre gregos e romanos. A estrutura é sempre na sequência política, depois economia, cultura e sociedade. Termina com Império Bizantino.
As imagens são regulares e de caráter, na maioria das vezes, meramente ilustrativo. Exercício de caráter diretivo, com pouco espaço para a reflexão, quase sempre colocados ao final do capítulo.

História, Sociedade e Cidadania de Alfredo Boulos Junior. Editora FTD.
A única com cidadania no título. Para mim, tem o melhor título dos livros da linha mais tradicional. A capa não é das melhores, mas está de acordo com a proposta da coleção de um ensino ordenado e diretivo como a carruagem chinesa de terracota da capa. 
Logo no início do livro, chama a atenção a proposta de criação de um blog da turma através de equipes. A proposta é diferenciada e pode ser bastante interessante, podendo servir como atrativo para envolver os estudantes.
A estrutura, no entanto, é totalmente tradicional. No início, os capítulos 1 e 2 tratam sobre os conceitos básicos: história, fontes históricas, cultura e tempo. Depois sequencia linear etapista com acréscimo dos africanos. Grécia e Roma até Bizantinos.
Ótimas imagens e diagramação moderna Bons exercícios, documentos, referências de livros, sites e filmes. Fechamento das unidades interessantes, mas há a presença de conceitos como origem e pré-história.
O livro vem acompanhado de 3 cds com uma boa seleção de imagens e alguns textos interessantes de caráter tradicional sobre assuntos culturais, militares ou analisando importantes obras. Há um cd apenas de atividades também de caráter diretivo e tradicional.

Projeto Radix - Raiz do Conhecimento de Cláudio Vicentino. Editora Scipione.
O autor Cláudio Vicentino é figura costumeira no mercado de livros didáticos, sendo formado em ciências sociais e professor de cursinho, o que vemos refletido na estrutura e método do livro.
No capítulo 1, como sempre, somos apresentados aos conceitos de história e tempo. No capítulo 2, conforme as exigências curriculares, a ideia de pré-história, é criticada, mas continua sendo usada.  Assim, de maneira sucinta são apresentados os desenvolvimentos da agricultura, domesticação e metalurgia.
O módulo 2 passa a tratar do povoamento da América ("pré-história da América") e povos indígenas do Brasil. Não há a mesma preocupação com  os povos africanos. Os povos americanos reaparecem no capítulo 8 com as primeiras civilizações da América. O módulo 3 trás Egito e Mesopotâmia, na costumeira sequencia de viés político-militar. A cultura vem sempre ao fim como detalhe (estrutura de cursinho).
No módulo 4 e a vez de hebreus, fenícios e persas. Nos módulos 5 a 7, discorre de maneira clássica sobre Grécia a Roma. China e Índia são relegados ao final do livro, também sob a ótica político militar, como estranhos no ninho.
O livro apresenta boas figuras, diagramação dinâmica e moderna. As atividades são boas e interessantes, mas tradicionais e diretivas, pouco reflexivas. Existem poucas referências extras, sem fechamento dos módulos que parecem sem conexão.

Saber e Fazer História de Gilberto Cotrim e Jaime Rodrigues. Editora Saraiva.
Ouso dizer que Saber e Fazer História é o livro mais tradicional de ensino de história, tanto por sua longevidade (eu tenho uma edição de 1983), quanto por seu modelo de história apresentado.
Esse livro é um dos analisados em minha dissertação de mestrado (a edição era a aprovada pelo PNLD de 2005) e na época foi o livro com mais problemas dos 7 que analisei.
A edição atual para o PNLD 2013 tem além de Gilberto Cortrim, um autor com décadas de experiência no mercado de livros didáticos, o acréscimo de Jaime Rodrigues, doutor em história social do trabalho pela UniCamp. A capa trás a imagem de um estátua romana (a musa da poesia épica Calíope) vista pela tela de um computador. Isso diz muito sobre a vitrine da história que é apresentada pelo livro e seus autores.
O conteúdo exaustivo parece ser o grande trunfo da coleção, pois os 16 capítulos estendem-se até a consolidação da Idade Média e não até o fim da Idade Antiga como as demais. A lógica que privilegia a política prevalece nos capítulos das civilizações, que seguem o costumeiro arranjo do progresso civilizacional. 
O primeiro capítulo (o único da unidade tempo e história) é dedicado à reflexão sobre conceitos: história, fontes históricas, tempo.
Os capítulos seguintes tratam das origens do ser humano e origem dos povoadores da América. A ideia de origem é forte, mas é o único até aqui que não fala em pré-história.
O livro segue a sequência tradicional: Mesopotâmia, Egito (com acréscimo de Cuxe como adendo), hebreus, fenícios, persas, China e Índia, Grécia e Roma. Não considerando suficiente, com ambição enciclopédica segue com os povos germânicos, mundo islâmico, sociedade feudal, cristandade medieval e Bizâncio. 
A obra apresenta boas imagens, mas ainda muito ilustrativas, assim como a diagramação é tradicional. Atividades tradicionais e diretivas, mas ao longo do texto. Oficina de história ao final, propostas transdisciplinares, bons sites, leituras e filmes sugeridos, mas tradicional. Bons documentos no inicio dos capítulos. 

Jornadas.hist de Maria Luísa Vaz e Silvia Panazzo. Editora Saraiva.
A capa trás um aqueduto romano localizado na França, assim como um riacho que passa sob ele. A fluidez parece ser uma ideia lançada ao público.
No entanto, o livro é distribuído em 8 unidades, que seguem o tema tradicional do progresso da civilização, ainda que o arranjo e distribuição dos capítulos fuja um pouco do padrão. Além disso, é dedicado mais espaço à reflexão de alguns temas não usuais, como um número maior de povos africanos e o Japão. 
Os 2 primeiros capítulos são dedicados à apresentação de conceitos: história, sujeito, fonte, patrimônio. O capítulo 3 é dedicado à origem da terra, mitos sobre a origem e tempo geológico. Seguido por cultura  e calendário no capítulo 4. Os capítulos trazem o mito da origem para o surgimento dos seres humanos no mundo (capítulo 5) e na América (capítulo 6) evocando além da ideia de origem, a de pré-história.
Depois disso, as civilizações são sequenciadas não por suas "contribuições" à civilização como de costume, mas por sua localização geográfica. Assim sendo, temos na unidade 4, o capítulo 7 para o Egito, o 8 para outros reinos africanos. Na unidade 5, impérios do oriente, seguem-se Mesopotâmia, persas, China, Índia e Japão. Talvez muito próximos do "centro", fenícios e hebreus são postos na unidade 6, que não tem designação de lugar, assim como Grécia e Roma que integram as duas unidades seguintes, retomando a sequência tradicional. Prevalece ainda o viés político com a ordem quase eterna política, sociedade, economia e cultura.
Destacam-se as imagens, que são ótimas, grandes e bem utilizadas como elemento para a reflexão. A diagramação é bastante dinâmica. Outra qualidade é que os exercícios e atividades são colocados ao longo do texto. Pontos principais são destacados no começo do capítulo, uma seção "teia do saber" ao final serve como fecho, mas as questões muitas vezes são diretivas. Também merecem destaque as propostas de pesquisa na área "procure fazer". As sugestões de leituras, filmes e sites vem ao longo dos textos.

História nos Dias de Hoje de Flávio de Campos, Regina Claro e Miriam Dolhnikoff. Editora Leya.
Apesar dos autores do livro serem uma mestra (africanista) e doutores em história pela USP, o conteúdo do livro é muito decepcionante. O livro é altamente tradicional, seguindo o etapismo linear do progresso da civilização. O capítulo dedicado às civilizações africanas que não a egípcia são expulsos para o final do livro (capítulo 10). A imagem da capa é mal informada e trás corredores de alguma pintura grega. Esse ponto de partida é a origem que é o perpétuo ponto de chegada de olhares com o deste livro.
Não há unidades. A estrutura interna dos capítulos é tradicional, embora tente apresentar um tom moderno com sessões como "jogo aberto", "bate bola" e "olho no lance". De positivo, há o passo a passo inicial que trata da análise de documentos, imagens, mapas e técnicas de estudo.
São reforçados conceitos como pré-história e origens. 
Boas imagens, embora muitas vezes apenas ilustrativas. A diagramação é tradicional, mas com algumas liberdades. Bons exercícios, mesmo que tradicionais ao final dos capítulos. Boas indicações de sites, leituras e filmes também ao final.

Projeto Araribá de Maria Raquel Apolinário. Editora Moderna.
Capa trás a Catedral de Santa Sofia em Istambul, um símbolo de encontros culturais, mas remetendo também ao encerramento do conteúdo do livro. 
O livro tenta ter uma roupagem diferenciada, mas na verdade os temas em que se dividem são apenas capítulos. Não há verdadeira mudança metodológica no ordenamento do texto. A mesma estrutura linear e etapista se repete. Após os dois "temas" iniciais sobre conceitos: história, fontes históricas, verdade, tempo. Seguem-se as unidades sobre a origem do ser humano (novamente a ideia de pré-história), o povoamento da América, Mesopotâmia, Egito, Núbia, China, Índia, Fenícios, Hebreus, Persas, Gregos e Romanos. A primazia do político também é a única opção.
O livro apresenta imagens boas, uma diagramação tradicional, exercícios diretivos e repetitivos ao final. Sem indicações externas como leituras, filmes ou sites.

Estudar História - Das origens do homem à era digital de Patrícia Ramos Braick. Editora Moderna.
O maior problema desse livro começa pelo título, na minha opinião o pior de todos. Ele representa o eterno etapismo linear desde já. Ele se integra a uma imagem egípcia de uma dádiva, o que também diz muito.
Os capítulos seguem o modelo tradicional, sem divisão em unidades. Origens o tempo todo: o ser humano em busca de suas origens (capítulo 3), a origem das cidades (capítulo 4). A estrutura também privilegia o político como de costume.
.As imagens são boas. As questões surgem ao longo do texto. Boa diagramação, muito quadrinho. Exercícios diretivos e tradicionais. Sem extras.