quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Fica Jorge



Salve pessoas... hoje vou tomar a liberdade de falar sobre um acontecimento um tanto extraordinário que se deu comigo lá na escola, na sexta feira passada (dia 23/08). Meus estudantes organizaram uma manifestação para que eu não saia da escola no final do ano. Para explicar melhor, eu me inscrevi no concurso de remoção da secretaria de educação para tentar vir trabalhar mais perto de casa, pois o CEF 308 do Recanto das Emas fica a 30 km da minha humilde residência. Além disso, o desgaste da rotina na escola e outras questões deram o empurrãozinho que faltava. Porém, contudo, todavia, eis que me vi cercado de uma massa de alunos empunhando cartazes aos gritos de "Fica Jorge". Além deles, os professores, direção e outros funcionários da escola apoiaram o processo e também participaram. Não sei nem quantas vezes chorei e foi difícil dar aula depois. Ainda assim, consegui trocar muitas ideias, consegui falar dos meus sonhos e das minhas práticas. Lembrei pra todo mundo que a vida não é ficar triste pelo que não mais haverá, mas sim em saborear o que houve. As sementes foram e continuarão a ser plantadas onde quer que seja.
Depois disso tudo foi difícil dizer tchau. Prometi pensar a respeito e realmente estou pensando. Sempre fui uma pessoa mais de ficar do que de ir, mas desconfio se é o melhor pra mim. Seja como for, certamente foi o maior presente que já ganhei como professor. Uma bela representação de que a vida sabe aplaudir os nossos esforços. É preciso amar o que se faz e é preciso fazer com amor. Depois de cinco anos posso me dar ao luxo de dizer que sou um grande professor, um grande educador e que ainda pretendo ser muito melhor, porque ainda tem muito chão nessa estrada e muito horizonte pela frente. Viajar é preciso e eu viajo em tudo que faço.
Cheguei a conversar com os professores sobre minha ideias revolucionárias. Faça o que tu queres, pois é tudo da lei... vamos ver. Antes da manifestação, eu fiz uma apresentação sobre avaliação para os professores no período da coordenação geral (pros dois turnos). Essa experiência já foi bem interessante e me permitiu apresentar alguns dos meus entendimentos sobre o trabalho que estamos fazendo lá. Com os pedidos tão sinceros e tão sentidos, eu estou disposto a tentar romper de vez com o modelo de ensino tradicional e redimensionar nossa prática com um projeto político pedagógico real e dinâmico. Como eu disse.. vamos ver.

Algumas ideias:
- Salas de aula ambiente (cada professor tem a sua e os alunos que trocam de sala).
- Avaliações cooperativas e diagnósticas
- Biblioteca, quadra e sala de vídeo (e outros lugares da escola) como espaços educativos
- Montagem de turmas e intervenções diretivas ao longo do ano
- Fim das subidas de aula e planejamento letivo
- Desenvolvimento da disciplina como condição de liberdade e não como mera repressão

Vídeo da manifestação:

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

África, viagens e sala de aula


Salve pessoas, acabei de retornar da África do Sul e Namíbia recheado de experiências únicas e vivências diferenciadas. Como tudo que me acontece, vem ressoar na sala de aula o eco desses passos. Preparei um conjunto de 51 imagens produzidas durante a jornada que não só dão a ler um pouco da minha experiência, como também são capazes de suscitar a reflexão, tanto com as turmas de 6o ano quanto de 8o ano.
A sala de aula deve ser um espaço multiplicador de vivências, bem como uma janela ampla para olhares diversos. O continente africano é enormemente silenciado durante nossa formação, sendo tratado na maioria das vezes através de generalizações simplistas ou estereótipos ultrapassados. Somos acostumados a olhar para um vasto continente com pena pela sua miséria, pelo seu atraso. A viagem teve um grande impacto em mim nesse sentido, por me permitir ver algumas especificidades que conformam esse caleidoscópio que classificamos como Africa. Tentei transmitir esse impacto e refletir sobre as razões do poder hegemônico de tais ranços. Entendo que não é apenas uma questão de incluir histórias africanas, como já é exigido por lei (10.639/03), pois isso redunda no mesmo conteudismo de sempre. A questão é muito mais desconstruir essa África que nos é imposta todo o tempo, refletir sobre as razões de sua permanência e experimentar novas possibilidades de historicizar a cultura e as vivências de um continente tão próximo e tão diverso. Eu percebi diálogos íntimos e diferenças significativas entre os dois lados desse mundo atlântico. Que elemento interessante para a discussão da ideia de nação com estudantes de 8o ano, um país com 11 idiomas oficiais, por exemplo.
Algumas questões se destacaram na conversa: a relação homem e natureza; as heranças do apartheid; sítios arqueológicos e evolução do ser humano; a importância de viajar e as grandes navegações; nação e diversidade sul-africana.
Viajar é preciso, já dizia o Pessoa. Refletir também. Trocar experiências ainda mais. A sala de aula é um mundo e o mundo tem que ser a nossa sala de aula.