sábado, 22 de março de 2014

Porque não precisamos de outra DITADURA militar! (Cabra Marcado Pra Morrer de Eduardo Coutinho e Ilha das Flores de Jorge Furtado)


Salve pessoas, desculpem o sumiço, mas com o início do doutorado, meu tempo está mais escasso. Mesmo assim, o trabalho em sala de aula segue firme e forte. Com os alunos do 9o ano, dei início à preparação para a 6a Olimpiada de História. Com as turmas de 6o ano, já passei o roteiro para realização do trabalho do 1o bimestre: a biografia do avô ou da avó, material que uso como fontes para minha pesquisa do doutorado.
Com as turmas de 8o ano, trouxe para a discussão do eixo-temático terra e propriedade os filmes Cabra Marcado para Morrer de Eduardo Coutinho de 1983 e Ilha das Flores de Jorge Furtado de 1989. Os dois filmes são elementos provocadores do debate da questão da terra e da propriedade no Brasil, além do texto do livro sobre a questão da reforma agrária em nosso país.


Cabra Marcado para Morrer é o melhor documento histórico para sala de aula sobre as sequelas da ditadura militar no Brasil em minha opinião. Não só o filme trás a narrativa sobre o assassinato de João Pedro Teixeira, líder camponês da Paraíba, assassinado pelo "latifúndio" por sua luta para organizar os trabalhadores rurais, como mostra os traumas do processo histórico de formação da nação brasileira. A deposição de Jango, o GOLPE militar de 1o de abriil de 1964, a perseguição a quem pensava diferente ou lutava contra as velhas oligarquias. Ao invés da tradicional história pacífica e sem conflitos - que insiste em sobreviver nos discursos e nas salas de aula - vemos saltar na tela as chagas e tormentos de brasileiros e brasileiras expropriados de seus direitos mais básicos e tratados como terroristas e inimigos da pátria.
Essas pessoas ganham voz. Algumas preferem evitar esse passado, as memórias que o representam são por demais dolorosas. Ainda assim, falam e contam suas histórias. A história de João Pedro e sua esposa Elisabeth, da Liga Camponesa de Sapé, da bem sucedida Liga de Galiléia, dos desmandos dos senhores de engenho refugiados no Recife, do momento político da democracia brasileira. Eduardo Coutinho faz do filme algo muito maior do que seu projeto inicial, seja o de 1964 ou o de 1981.
O filme pode ser dividido em 3 partes: a narração do projeto inicial e exibição do material que sobreviveu após a interrupção das filmagens em 64; o novo filme buscando os relatos de Elisabeth Teixeira e dos camponeses que participaram da filmagem até 1964 em 1981, já durante o processo de abertura e anistia política; por fim, a busca pelos filhos de Elisabeth que haviam se espalhado após a fuga dela. Em sala de aula, eu trabalho as duas primeiras partes do filme, que são mais interessantes para provocar a sensibilidade dos estudantes. Isso compreende os primeiros 42 minutos do filme.

Ilha das Flores também é um filme genial, um curta metragem de 13 minutos, muito dinâmico e didático para pensar propriedade, lixo, liberdade e o sistema capitalista. Ele narra o caminho de um tomate estragado pelas inúmeras relações comerciais do campo, passando pelo supermercado, mesa, lixo e finalmente o lixão, a Ilha das Flores, onde não existem muitas flores, mas existem porcos que estão acima dos humanos por terem um dono que tem dinheiro.
O objetivo é provocar. Lembrar que a Cidade Estrutural nasceu sobre o lixão do DF. Lembrar mais uma vez o processo de invasão e ocupação formador do próprio Recanto das Emas (onde leciono) e de maior parte das chamadas cidades-satélites de Brasília.

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