segunda-feira, 20 de abril de 2015

Por alunos que não precisem de você para nada...

Salve pessoas... estava devendo uma postagem sobre a minha nova experiência como professor de 9o ano. Quis fazer isso antes das avaliações do fim do primeiro bimestre para focar mais na prática do ensino. E posso adiantar que a experiência está sendo sensacional.
A turma tem 36 alunos escolhidos por mim no início do ano na montagem de turmas por serem os que tenho mais afinidades. Todos foram meus alunos no 8o ano e quase todos foram meus alunos no 6o ano em 2012.
Normalmente, eu trabalho com turmas de 6o e 8o ano. Sempre me preparei para orientar meus educandos por dois anos, para no final poder anunciar que eles não precisavam de mim para mais nada. É difícil para muitos professores aceitar essa ideia de que não são essenciais ao processo de aprendizagem. Pois não somos, meus caros. Aprendi há muito tempo que para aprender é preciso querer e ajuda muita um balizamento inicial para que os primeiros passos firmem a caminhada, mas que a caminhada tem o rumo que quer o caminhante. Alguns conseguem fazê-la por si só, mesmo que não haja viagem solitária, já que a vida é feita de encontros. O professor é um orientador, conselheiro, amigo para o diálogo, mas não o detentor do verdadeiro saber.
Os melhores professores são os que aprendem com seus educandos e os ensinam a aprender por seus próprios quereres, que já são tantos e tamanhos...
Nesse sentido, a turma tem sido deveras interessante. Temos discutido textos que uso com minhas turmas universitárias de História Social e Política do Brasil (HSPB) sem qualquer problema. É claro que os objetivos são outros. Ao ler a introdução de Cidadania no Brasil do José Murilo de Carvalho ou o capítulo Por que Ensinar História Hoje? de Marcelo Magalhães, a ideia é instrumentalizar formas de ler. Mapear conceitos de cidadania e os objetivos dos autores foram o foco.
O desenvolvimento dos projetos para a Olimpíada de História da UniCamp através de exercícios e simulados e da História do Recanto com filmes (Cidade de Deus e Rap: o Canto da Ceilândia) e a leitura do meu artigo Recanto de Memórias tem provocado reflexões pertinentes para minha pesquisa do doutorado e para minha prática, além dos frutos na formação e elucubrações estudantis.
Como o eixo-temático do 9o ano é História e Cidadania, nesse 1o bimestre estamos pensando a 1a Guerra Mundial. Teve uma aula expositiva, seguida pela leitura de um material especial dos 100 anos da 1a Guerra Mundial publicado pelos jornais Estado de SP e Folha de SP no ano passado (que também foi relacionado com algumas matérias de jornal da época que o livro didático trás). Também lemos e refletimos sobre a análise do Eric Hobsbawn em a Era dos Extremos da Guerra Total e vimos o filme Glória Feita de Sangue de Stanley Kubric.
Mais do que apenas entender a 1a Guerra como uma consequência do progresso econômico da Europa capitalista ou como uma briga de cumadres nacionais modernas, trago a dimensão de trauma do conflito e seus enlaces com a formação e reformulação dos ideias de cidadania. As vivências e representações da guerra. Imaginário e cotidiano e não só tratados e fronteiras. Um fantasma a assombrar a pretensa tranquilidade da modernidade com suas hipocrisias burguesas.
Os resultados tem sido bem animadores, principalmente pela independência com que os educandos tem atuado e como os projetos tem se potencializado. Ainda estamos apenas findando o primeiro bimestre, mas estou animado...